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                                                   FORMAÇÃO DE PORTUGAL 

A partir de 711 os muçulmanos cruzaram o Mediterrânico, através do Estreito de Gibraltar, e entraram na Península Ibérica com o apoio da facção contrária do Rei Rodrigo, visigodo da Hispanica, eleito pelas cortes naquela altura. Os muçulmanos o derrotaram na Batalha de Guadalete, e instalaram-se na Península Hispânica. Os nobres visigodos sob a chefia de Pelágio refugiaram-se nas Astúrias. Devido as rivalidades entre os muçulmanos, por volta de 750 os soldados berberes das terras nortenhas incluindo a Galiza  foram para o sul em luta contra os muçulmanos do sul, deixando livres as terras a norte do Rio Douro, o que permitiu ao Pelágio e ao Afonso I das Astúrias reconquistar Galiza, Minho, Douro e parte da actual Beira Alta. A ocupação destas terras era feita com o toque de trombetas e bandeira real desfraldada, simbolizando a implantação do domínio religioso, político e social, seja do cristianismo contra o islamismo.

Estas terras ocupadas formavam 3 núcleos: núcleo asturiano composto pelos reinos de Ovídeo, Leão e Castela; núcleo pireneico composto pelos reinos de Navarra e Aragão e o núcleo do reino de Barcelona. Os que governavam esses reinos eram chamados duques ou condes, os quais obedeciam ao rei, mas também faziam guerra ao rei e às vezes lutavam-se entre si.

Nos finais do século IX destaca-se o condado Portucalense, com terras entre o Minho e sul do Douro, sendo a principal povoação Portucale, na foz do Douro, restaurada e povoada nos meados do século IX pelo conde Vimara Peres, cuja descendente, a condessa Mumadona, fundou o convento de Guimarães e aí mandou construir o castelo de S. Mamede. Mais tarde destacou-se, entre um dos seus descendentes, nos finais do século XI, Afonso VI como rei de Leão e Galiza, com grande prestígio e força na Europa, onde contribuiu na construção do templo de Clunny. Casou a sua filha D. Urraca com um dos duques de Borgonha, Raimundo, entregando-lhe o governo de Galiza e a outra filha bastarda, D. Teresa, casou-a com Henrique, também duque de Borgonha., dando-lhe o governo do condado Portucalense.

Afonso VI só mais tarde, em 1100 teve um descendente masculino, infante Sanches, filho da moura Zaida, nora do rei da Sevilha, que ele considerou seu legítimo herdeiro. Mas os clunienses apoiaram o conde Raimundo e promoveram acordo entre Raimundo e Henrique, em finais de 1105, e nos seus termos Henrique reconhecia Raimundo como herdeiro dos reinos de Leão, Castela e Galiza e o prometia defender contra qualquer homem ou mulher, na qualidade de ser seu vassalo, e  em contrapartida Raimundo  prometia conceder ao Henrique o território de Toledo e 1/3 dos seus tesouros ou o reino de Galiza, mas Raimundo morreu em 1107, o infante Sanches foi morto pelos almorávidas em 1108 e  Afonso VI morreu em 1109, apenas ficou o filho de Raimundo, nascido em 1105, Afonso Raimundes, e Henrique também faleceu deixando o filho Afonso Henriques. D. Urraca querendo  suceder ao rei Afonso VI invadiu Portugal para impor a vassalagem, e saqueou todo o território, obrigando D. Teresa refugiar-se no Castelo de Lanhoso.

Admite-se que D. Afonso Henrique foi armado cavaleiro em Zamora em 1125 com o acordo da sua mãe D. Teresa e de Fernão Peres e também de D. Urraca e de seu filho Afonso Raimundes. Este com a morte de D. Urraca em 1126 foi coroado rei de Leão e de Castela, com o título de Afonso VII, e invadiu o condado portucalense e cercou Guimarães, para obrigar D. Teresa e D. Afonso Henriques a reconhecerem a sua autoridade, mas para impedir a luta o aio de D. Afonso Henriques, Egas Moniz dirigiu-se ao Rei de Leão e Castela prometendo que o príncipe lhe prestaria vassalagem e o cerco foi levantado. D. Afonso Henriques quando começou a governar recusou-se a cumprir a promessa, pelo que Egas Moniz, descalço e com a corda ao pescoço, acompanhado da sua mulher e filhos, ofereceu, a sua vida e a dos seus filhos, ao rei Afonso VII, que o perdoou.

 

I DINASTIA AFONSINA

D. AFONSO HENRIQUES, 1143-1185, O CONQUISTADOR

Vários reinos, entre eles alguns galegos, temendo que Afonso VII tirasse as suas honras, revoltaram-se, mas D. Teresa e Fernão Peres encontraram-se com D. Afonso VII em Zamora em 1127 e estabeleceram um acordo de paz, facto que levou D. Afonso Henriques a revoltar-se contra a sua mãe D. Teresa, enfrentando-se as tropas de Fernão Peres em S. Mamede, perto de Guimarães, no dia de S. João Baptista em 1128, em que o conde Fernão Peres é derrotado.

É uma data carregada de simbolismo, pois o santo anunciara a vinda do Cristo e agora proclamava o novo reino destinado a tomar na cristandade um lugar de relevo. Esta vitória foi dos barões portucalenses, que escolhendo D. Afonso Henriques como seu chefe, afastaram-se da alta nobreza galega e do arcebispo de Compostela, que queriam um reino conjunto de Galiza e Portugal.

A partir de 1131 D. Afonso Henriques abandonou Guimarães, antiga residência dos condes de Portucale, passando a viver em Coimbra, onde D. Henrique e D. Teresa haviam também permanecido, e em Coimbra estava o mosteiro de Santa Cruz de Coimbra que com a sua ligação ao monarca exprimia o vínculo com o poder divino.

D. Afonso Henriques retribuiu aos nobres do norte o apoio dado concedendo-lhes cartas de couto até 1150, mas sem lhes conceder foros fora das suas regiões de origem, fazendo acantonar a nobreza senhorial entre Minho e Vouga.

Com o apoio dos cavaleiros de Coimbra de proveniência vilã e das comunidades rurais do centro, dedicou-se a actividade guerreira, ao mesmo tempo que construia cintura das fortalezas a sul, para uma melhor defesa. Para a defesa de Coimbra construiu o Castelo de Leiria em 1135, como base defensiva e ofensiva e como ponto de apoio estratégico do Castelo de Soure, que ofereceu aos Templários em 1129/30 para defender Coimbra das incursões sarracenas vindas do sul e estabeleceu ao mesmo tempo outros castelos menores e deu em forais as terras. Derrotou os muçulmanos na Batalha de Ourique em 1139 e conquistou Santarém em 15 de Março de 1147 e em Julho de 1147 cercou Lisboa com a ajuda dos cruzados vindos da colónia, Lorena, Flandres, Bolonha, Normandia, mas sobretudo de Inglaterra e da Escócia, durante 17 semanas, causando muitos mortos em ambos os lados, e a saída da maioria dos mouros da cidade. Nesta luta as forças portuguesas saíram vitoriosas e a alcáçova foi ocupada pelos portugueses e pelos cruzados, leigos e clérigos, que ali quiseram morar. Para reforçar a defesa de Lisboa conquistou Sintra, Almada e Palmela ao longo da linha do Tejo, passando a operar na zona do Rio Sado, terras alentejanas. Estas conquistas dos centros muçulmanos de Santarém e de Lisboa, puseram em contato o norte com as regiões dotadas de recursos económicos diferentes, de cidades ricas e populosas, e o país passou a estruturar-se em 3 grandes metrópoles: Lisboa, Santarém e Coimbra. Isto permitiu que a cultura mocárabe, mistura da civilização árabe com direito e liturgia visigótica, institutos romanos, língua latina e costumes populares, se relacionasse com a cultura guerreira do norte, campestre e rude. Assim reforçou a corrente cultural e institucional mediterrânica e neutralizou os fenómenos negativos da colonização do sul pelo norte, tornando-os dois polos opostos, mas indissoluvelmente ligados entre si por uma corrente que se alimentou da sua própria diferença. 

Em 1143 o Cardeal Legado da Santa Sé, Guido de Vico, passou por Coimbra e Porto, para tratar dos assuntos eclesiásticos, e visitou Valedolid e depois Zamora, onde se encontrou com os Reis de Portugal e de Leão e a 13 de Dezembro o Rei de Portugal dirigiu-se por carta à Sé Apostólica, como cavaleiro de S. Pedro, obrigando-se a pagar um censo anual de 4 onças de ouro, sob  condição de o Papa defender a sua honra e dignidade e a sua terra, e afirmou que não reconhecia nenhuma outra autoridade eclesiástica ou secular a não ser do Papa e abandonou as suas pretensões sobre o território galego. O Papa Alexandre III reconheceu D. Afonso Henriques como rei, pela Bula Manifestis Probotum, pondo o Rei e os seus herdeiros sob protecção da Santa Sé e declarou Portugal como reino de S. Pedro e prometeu auxílio para a defesa da dignidade régia. Em reconhecimento desta decisão papal D. Afonso Henriques quadruplicou o censo que pagava à Cúria romana e passou a pagar de uma só vez 1 000 peças de ouro.

D. Afonso Henriques para reforçar as suas posições e ampliar a expansão tentou aliança com Ibin Qasi em 1151, ofereceu domínios e o Castelo de Ceros aos Templários e doou terras ao Procurador dos Templários, mestre Gualdim Pais, e chamou os Cistercienses a Alcobaça, onde lhes deu um enorme território em 1153. A Ordem dos Templários depois é transferida para Tomar, ocupando aí posições estratégicas junto do Rio Zêzere, para reforçar a defesa de Santarém e de Lisboa. Criados estes pontos de apoio, em 1158 ou 1160 tomou Alcácer do Sal, com a ajuda dos cruzados, depois de um cerco de 2 meses.

Geraldo Geraldes Sem Pavor em 1 de Dezembro de 1162 tomou de surpresa a cidade de Beja, Trujille, Évora, e Cáceres em 1165, Serpa em 1166 e cercou Badajoz em 1168, com o apoio das tropas de D. Afonso Henriques. A sua táctica eram ataques inesperados durante as noites do inverno e com a penetração nas fortalezas por escadas encostadas às muralhas. Agia por sua conta e risco como bandos de salteadores, marginais e aventureiros. Mas a conquista de Badajoz pelos portugueses impedia a expansão dos leoneses para o sul, pelo que as tropas do Rei de Leão, Fernando II, dirigiram-se também a Badajoz e aliados aos mouros, Almóadas, obrigaram os portugueses  a retirarem-se. Nesta retirada o Rei de Portugal partiu uma perna ao chocar contra o ferrolho de uma das portas da muralha externa e em Caia é capturado, juntamente com Geraldo Geraldes Sem Pavor, pelos cavaleiros leoneses e conduzido à presença de Fernando II, que lhes concedeu a liberdade com a condição de cessar os ataques a Badajoz, e restituir Cáceres e Serpa aos Almóadas, bem como devolver todos os castelos a leste do Alentejo e a norte do Minho.

D. Afonso Henriques voltou para Coimbra e dali para as Termas de S. Pedro do Sul, onde ficou em convalescença durante alguns meses e enviou seus embaixadores a Sevilha a solicitar interrupção das hostilidades e em 1173 assinou uma Trégua de 5 anos. Após este desastre não tornou a cavalgar e dizem que usou andas para andar. Geraldo Sem Pavor em 1173 com 350 homens passou ao serviço de Califa de Sevilha até 1176, data em que o acompanhou a Marrocos, donde começou a corresponder-se secretamente com D. Afonso Henriques convidando-o a desembarcar em Marrocos, mas as cartas foram descobertas e Geraldo condenado à morte.

Entretanto os almóadas 1174-1184 procuram recuperar as cidades perdidas nas mãos dos reis de Leão, Castela e Portugal e D. Sancho I, filho de D. Afonso Henriques, no verão de 1178 organizou uma importante expedição em território muçulmano com ataque a Sevilha. Apesar disso os ataques mouros multiplicaram-se a partir de 1179 e atacaram Santarém, mas foram derrotados com a ajuda de Fernando II Rei de Leão em 1184.

D. Afonso Henriques promoveu a criação de uma milícia em Évora em 1175/76, com costumes e regras da Ordem Castelhana de Calatrava e Évora passou a desempenhar um papel comercial e económico importante, beneficiando tanto os cristãos como os muçulmanos. Este fato atraiu aí os mercadores andaluzes e os habitantes excedentários durienses ocuparam e desbravaram os espaços rurais até aí incultos na Estremadura.

D. Afonso Henriques casou em 1145 com Mafalda, filha do Conde Amadeu de Sabóia e Piemonte, com ascendência do Conde Raimundo de Borgonha e a sua filha Teresa, depois também chamada Matilde, casou com Filipe de Alsácia, Conde de Flandres, vassalo do Rei da França. Também são da Europa do norte as relações estabelecidas com os Templários, Hospitalares, Cistercienses, etc. por isso D. Afonso Henriques também é conhecido por bispo negro. Armou seu filho, Sancho I, cavaleiro, aos 18 anos, em 15 de Agosto de 1172, no dia da festa da Nossa Senhora de Assunção, 23 de Maio de 1179, casou-o com D. Dulce, filha do Rei de Aragão.

Com a morte de  Afonso VII em 21 de Agosto de 1158 os seus reinos são divididos pelos seus 2 filhos: Fernando II ficou com Leão, Sancho III ficou com Castela, assim surgiram 5 reinos: Navarra, Aragão, Castela, Leão e Portugal. Embora as divergências com D. Afonso Henriques fossem frequentes o Rei de Leão preferiu-se apoderar do trono de Castela do que recuperar Portugal, facilitando a independência de Portugal.

 

D. SANCHO I, 1185 – 1211, O POVOADOR

Filho de D. Afonso Henriques e da D. Mafalda de Sabóia, armado cavaleiro pelo pai aos 18 anos de idade em 1172, assumiu a chefia do reino, na incapacidade do pai, mas só se tornou rei depois da morte de D. Afonso Henriques em 1185. Casou com D. Dulce de Aragão. Seu primeiro filho, futuro D. Afonso II, nasce no dia do S. Jorge em 1186, o segundo filho, Pedro, nasce em 1187, cujo nome foi lhe dado em homenagem ao apóstolo Pedro, seguindo mais dois filhos varões.

Em 1189 chegou a Lisboa a 3ª cruzada vinda de Dinamarca e da Frísia, e os portugueses com a sua ajuda, bem como com o apoio de outras cruzadas de alemães, flamengos, franceses e ingleses, atacaram e conquistaram o castelo de Alvor, frente a Silves, em 14 de Julho de 1189 e em 3 de Setembro de 1189 conquistaram Silves. Estas conquistas permitiram acolher os navios italianos do Mediterrânico assegurando as vias de comércio internacional, através do Estreito de Gibraltar, bem como permitiu aos cruzados seguirem para a Terra Santa. Mas entre o período  de 1190 e 1250 os muçulmanos passaram de novo ao ataque e conquistaram Alcácer do Sal, Palmela, Almada e Silves, excepto Évora, e a fronteira passou a ser de novo a linha do Tejo.

No norte, entre 1197 e 1199 ocupou Tui e Pontevedra. Ao mesmo tempo que fazia a guerra optou também pelo repovoamento das regiões fronteiriças através das ordens militares, exércitos de monges-soldados e milícias, concedendo-lhes cartas de foral em torno de Évora, Ribatejo e Setúbal, bem como aos colonos franceses e flamengos nas regiões de Beira, Trás-os-Montes e Ribaminho. D. Sancho I morre aos 57 anos em Março de 1211 e sucede-lhe seu filho D. Afonso II.

 

D. AFONSO II, 1211-1223, O GORDO

Casado com Urraca Afonso de Castela, sofria de uma variante de lepra. Sobressaiu pelas suas reformas de centralização jurídico-administrativa, dominando a justiça senhorial e o poder clerical. Criou a Lei de Desamortização, proibindo a aquisição das terras pelas instituições religiosas, excepto para obtenção dos rendimentos para celebrar ofícios pela alma dos reis, criou Notariado e os Tabeliões para registar os diplomas particulares, o que fez surgir os primeiros documentos em português, como o testamento régio de 27 de Junho de 1214 e um documento privado “Notícia do Torto”, aperfeiçoou a Chancelaria Régia, inventariou os bens da Coroa, ordenou Inquirições Gerais em 1220 através dum inquérito sistemático para registar todos os foros, serviços pagos aos mordomos régios, os direitos patronais da Igreja e dos Proprietários Eclesiásticos. Fez também confirmações  dos principais diplomas de imunidade e lutou contra a formação dos senhorios das irmãs infantas. Como actividade guerreira conquistou apenas Alcácer do Sal com o auxílio da 5ª Cruzada chegada a Lisboa e com a participação da Ordens de Santiago e de Hospital, em 1223.  Morre em 1231 e  sucede-lhe seu filho, D. Sancho II, aos 14 anos de idade.

 

D. SANCHO II, 1223-1248, O CAPELO       

No seu reinado conquistou-se a maior parte das terras alentejanas e algarvias, como, Moura, Serpa, Beja, Aljustrel, Mértola, Cacela, Alvor, Tavira, Pedorne e Silves, as quais depois de abandonadas pelos mouros foram ocupadas pelas Ordens Militares de Santiago, Calatrava e Hospital.

Face a impossibilidade do aumento territorial e de absorção da nobreza na carreira eclesiástica e nas ordens militares, o reino sofre de lutas internas entre as classes, lutas entre Rei e bispos, bispos e burgueses, nobres e igreja e mosteiros, nobres entre si, nobres e vilãos dos concelhos e de um banditismo endémico, pelo que o Papa Inocêncio IV com o apoio do clero e da nobreza, depôs o Rei em 1245 e apontou sucessor seu irmão, ausente na Corte de França e Borgonha, Conde de Bolonha, D. Afonso III, o que provocou guerra civil de 1245 - 1247 e  o exílio de D. Sancho II na  Castela, onde morre em Toledo sem descendentes, em 1248.

 

D. AFONSO III, 1248 – 1279, O BOLONHÊS

Segundo filho de D. Afonso II e de Urraca de Castela, abandonou o reino, durante o governo do seu irmão D. Sancho II, frequentou as cortes de França ou Borgonha e de 1234 a 1245 frequentou a corte de Luís VIII. Foi armado cavaleiro em 1239. Casado com Matilde, uma viúva herdeira do rico condado de Bolonha foi feito vassalo do rei. Com o exílio do seu irmão D. Sancho II na Castela,  D. Afonso III com o apoio papal e dos clérigos e nobres portugueses dirigiu-se a Portugal e chegou a Lisboa em 1246 e até 1248 dão-se as lutas entre os partidários dos dois irmãos e terminam com a morte de D. Sancho II; agora para pacificação da nobreza fez uma ofensiva algarvia de 1249-1250 finalizando a conquista do Algarve ocidental, Silves e Faro e para assegurar a posse definitiva daquelas terras e combater os abusos senhoriais e clericais, ordenou novas confirmações e inquirições, e na década de 1270 obteve de D. Afonso X da Castela a abolição perpétua de todos os direitos feudais, ajuda militar e assistência aos reinos de Leão e de Castela.

A conquista do norte, centro e sul respeitou os direitos da propriedade, mas os bens das mesquitas muçulmanas foram transferidos aos bispados, que também aumentaram o seu património através de compras, doações dos reis, nobres e populares, e por confisco do património dos muçulmanos desaparecidos e mortos, enquanto os nobres adquiriram por doação real e pela conquista e usurpação.

As sés de Braga, Coimbra e Porto, entre as outras, eram as mais importantes, a par das principais ordens monacais, como, beneditinos com os mosteiros de Arouca, Paço de Sousa, Tibães, etc. localizados na sua maioria a norte do rio Douro; clunienses, chegados nos finais do século XI, possuíam conventos de fraca importância; os cistercienses, chegados no século XII, apoiados pela realeza e pela sociedade,  absorveram aos beneditinos alguns mosteiros, como Lorvão, S. João de Tarouca, no norte, Alcobaça no centro e aos Agostinianos a Igreja de S. Cruz de Coimbra. As ordens militares obtiveram extensas doações no sul, embora tivessem fraca influência a norte do Mondego, como Templário por volta de 1128, seguidos dos Hospitalários em meados da centúria, depois as ordens de Calatrava e de Santiago em 1170, com a tarefa de expulsar os mouros e libertar as terras ao Cristo. Com a vitória cristã os muçulmanas deslocaram-se para as regiões espanholas e para a África, ficando apenas os mercadores, artífices e camponeses e os que não tinham meios para partir, velhos, doentes e humildes.

A população muçulmana, os judeus e os cristãos moçoárabes, passaram a residir fora das muralhas das cidades, nos campos, e o seu lugar foi ocupado pelos colonos do norte, servos e artífices, que tornaram-se pequenos proprietários, artesãos e ocuparam os cargos governativos e administrativos. Existiam no Algarve poetas e escritores, com as suas baladas líricas e canções, escolas e madrasas (universidades e escolas secundárias muçulmanas), representando o sufismo e usando o alfabeto árabe, e muitas mesquitas muçulmanas foram transformadas em igrejas, como a Igreja de Mértola. A maior parte dos castelos e muralhas do sul do Mondego ou do Tejo, construídos nos séculos XI-XIII, são produto da construção civil e da ciência militar muçulmana, bem como as plantas das cidades de Lisboa e decoração da técnica de estuque e azulejos.

A coexistência pacífica, entre muçulmanos, judeus e cristãos moçoarabes, criada durante 4 séculos de convivência, foi posta em causa com as perseguições de porta a porta e com a guerra contra o infiel pregada aos cristãos pelo Papa, embora, depois de um século, durante 3 longos reinados, desde Afonso III até à Peste Negra, se tenha dada a fusão.

 

D. DINIS, 1279-1325, O LAVRADOR

Casou em 1288 com D. Isabel de Aragão, filha de Pedro III de Aragão, também conhecida como Rainha Santa Isabel, por se dedicar a paz e a piedade, distribuindo esmolas, cereais, pão e carne, visitando os doentes, protegendo os órfãos, consolando os infelizes, e socorrendo os que precisavam de ajuda e amparo. Foi medianeira nas disputas entre D. Dinis e o seu filho, D. Afonso IV, que entendia que D. Dinis favorecia Afonso Sanches seu filho bastardo na sucessão do trono. D. Dinis morre em 1325, e D. Isabel retirou-se ao Convento de Santa Clara, em Coimbra, e após a sua morte foi canonizada pela igreja como santa pelas suas virtudes cristãs e pelos milagres entretanto realizados.

No seu reinado, completa-se a fusão iniciada no tempo de D. Afonso III, formando uma entidade homogénea com nacionalidade portuguesa. Ao mesmo tempo é feita a delimitação do território oriental, com a integração das povoações de Olivença, Ouguela, Campo Maior e São Félix, situadas entre  Côa e Águeda, bem como as povoações de Sabugal, Castelo Rodrigo, Vila Maior, Castelo Bom, Almeida, Castelo Melhor, Monforte e outra povoações, por renuncia de D. Fernando IV de Castela. Com estas integrações foi rectificada a fronteira do Alentejo pelo Tratado de Alcaniz em 1297. O país ficou quase com a atual delimitação  com um comprimento de 848 km, largura de 30 km e uma área aproximada de 89 106 km2. Ao mesmo tempo foi substituido o latim pelo português, como língua oficial em 1288, para se diferenciar do xadrez político ibérico e ocidental e fundou em 1290 a 1ª Universidade Portuguesa em Lisboa, como base para através do ensino do direito formar os funcionários administrativos.

Fez-se também a colonização com os excedentes demográficos de Entre-Douro e Minho e as fortificações das regiões raianas, incentivando o cultivo das zonas agrícolas, fomentando comércio, feiras e mercados, bem como fomentando povoações no litoral marítimo, e ocupação do Alentejo e Algarve, com forais.

Preocupou-se com a autonomia das ordens militares e formou a Ordem de Cristo com o património da Ordem dos Templários, extinta em 1319.

Organizou a marinha da guerra em 1317 sob a chefia do genovês Manuel Pessanha.

Devido a sua política das inquirições em 1280 e execuções de sentenças em 1290 para anular as ilegalidades encontradas, a alta nobreza apoiou o infante D. Afonso IV contra o pai, D. Dinis, dando início a guerra civil de 1319 – 1324, com a acusação de o rei preferir o bastardo régio Afonso Sanches junto de si, com privilégios e doações.        

A língua portuguesa abrangia além do reino de Portugal, reinos de Leão, Galiza, Astúrias e Aragão, mas que se transformou em castelhano pela sua inclusão no reino da Castela, enquanto o português  absorvia as palavras técnicas do árabe na área da meteorologia, astronomia, medicina e farmácia, palavras como, lezíria, noras, açudes, azenhas, beringelas, tremoços, alfaces, azeitonas, alecrim, alfazema, anémonas, açoteias, ameixas, alfarrobas, alperces, romãs, seara, safra, tâmara, algodão, arroba, alqueire, azulejos, pátios, etc.

 

D. AFONSO IV, 1325 – 1357, O BRAVO

Casou com D. Beatriz de Castela, subiu ao trono com a morte de D. Dinis em 1325 e reacendeu a luta com o irmão bastardo Afonso Sanches, 1325-1328, com incursões recíprocas nos reinos de Portugal e de Castela devido as relações familiares em conflito, guerra que terminou com a formação da frente comum contra os muçulmanos em que D. Afonso IV aliado aos castelhanos derrotou o Rei de Fez na Batalha de Salado em 1340.

Fomentou actividades mercantis, patrocinou missões de reconhecimento das Canárias entre 1336 e afirmou numa carta ao Papa Clemente VI que a sua esquadra descobriu as Ilhas Canárias em 1336, o que seria o início dos descobrimentos portugueses e introduziu as Pragmáticas de 1340.

No seu reinado deu-se em 1348 a Peste Negra. Proibiu em 1349 a mendicidade, introduziu as normas para regular o trabalho, obrigou a fixação das populações no campo para contrariar a imigração para as cidades e para evitar a falta de cereais e fomes.

Esta depressão económica criou conflitos senhoriais, guerra civil de 1355 – 1356, em que o infante D. Pedro se opôs ao pai, sob pretexto de assassinato de D. Inês de Castro.

 

D. PEDRO I, 1357 – 1367, O JUSTICEIRO

Aos 16 anos celebrou os esponsais com D. Constança, que só chegou a Portugal em 1340 findo o conflito entre D. Afonso IV e Afonso XI de Castela, e procedeu-se ao casamento religioso. D. Constança chamou perto de si uma filha bastarda, Inês de Castro, do fidalgo galego Pedro Fernandes de Castro, de quem D. Pedro apaixonou-se e com ela manteve uma ligação secreta, mas que após a morte de D. Constança em 1345 se tornou pública com o nascimento do seu 3º filho, D. Fernando.  D. Pedro sob a influência dos irmãos de D. Inês de Castro manifestou pretensões ao trono de Castela. D. Afonso IV sendo contrário a essa pretensão mandou assassinar D. Inês de Castro, em 1355, causando a revolta de D. Pedro contra o pai, mas mais tarde reconciliou-se e subiu ao trono em 1357. Confirmou o diploma “Beneplácito Régio”, em 1361, direito de exame do poder civil sobre os actos emanados de Roma para poderem ter efeito em Portugal e que surgiu em virtude de protestos dos concelhos contra os abusos dos tribunais romanos e que promulgara antes da sua coroação. Extraditou e matou os 2 fidalgos que tinham participado no assassinato de D. Inês de Castro e administrou justiça para corrigir os abusos e cuidar da administração do tesouro real.

Foi sepultado no Mosteiro de Alcobaça ao lado dos restos mortais de D. Inês de Castro, em túmulos separados, que mandara executar com grandeza e nível artístico excepcional no estilo gótico.

 

D. FERNANDO I, 1367 – 1383, O FORMOSO

Filho de D. Pedro I e de D. Constança, casou com D. Leonor Teles em 1372 que mais tarde se aliou ao seu amante galego João Fernandes Andeiro. Subiu ao trono aos 22 anos de idade, no período da guerra civil castelhana e Guerra dos Cem Anos, entre a França e a Inglaterra, devido à depressão económica da 1ª metade do século XIV.

Envolveu-se na guerra civil castelhana após o assassinato de Pedro I em 1369, disputando o trono de Castela com Henrique II de Trâstamara, irmão bastardo do rei morto. Aliado aos reinos de Aragão e de Granada invade Castela  pelo norte através de Galiza e Leão e a sua armada ataca Sevilha, mas não conseguiu impedir a conquista de Braga, Bragança e Mirandela pelas forças trastamaristas e negociou a paz pelo Tratado de Alcoutim em 1371.

Mas em 1372 aliou-se ao duque de Lencastre, candidato inglês ao trono de Castela, pelo que Henrique II invadiu a Beira e chegou a Lisboa – 2ª Guerra de 1372-1373 e D. Fernando assinou a paz pelo Tratado de Santarém em 1373 e prometeu a expulsão dos petristas.

Devido a sua política e a carestia da vida, surgem protestos, queixas, motins e rebeliões, entre 1371 – 1375, pelo que promulga medidas para resolução da crise financeira. Tais como, a Lei de Almoçataria de 1372, regulação do trabalho e produção agrícola, e a Lei de Sesmarias de 1375 que obrigava o cultivo de todas as herdades caídas em abandono ou a entregas das mesmas a quem o quisesse fazer. Para o efeito era assegurado o fornecimento de mão-de-obra por soldo fixo, sendo proibido salário superior ao fixado. Os lavradores deviam ter bois de trabalho. Os preços dos produtos eram também regulamentados. Estas medidas contribuiram para o incremento de comércio. Na área naval criou a Companhia das Naus, concedeu facilidades para construção naval, e criou o seguro marítimo. Em 1377 transferiu a Universidade para Lisboa.

Mais uma vez, no Grande Cisma da Igreja Católica de 1378, alia-se ao Papa de Roma, defendido por Inglaterra, contra o Papa de Avinhão defendido pela França e pela Castela, agora governada por João I, criando a 3ª Guerra Luso-Castelhana, 1381-82, com confrontos no Alentejo e Tejo com nova derrota para as forças portuguesas.

Com a morte do rei D. Fernando I em 1383, D. Leonor Teles assume a regência e negociou o casamento da filha, D. Beatriz com João I de Castela.

 

                                                                II DINASTIA DE AVIZ

 

D. JOÃO I, 1385 – 1433, O DE BOA MEMÓRIA

Filho bastardo do Rei D. Pedro I e de D. Teresa Lourenço da Galiza. Foi confiado ao mestre da Ordem de Cristo e foi investido  aos 6 anos Mestre da Ordem de Avis, mas apesar dos votos clericais teve um filho bastardo, D. Afonso, que se tornou Conde de Barcelos e Duque de Bragança.

Casou com D. Filipa de Lencastre no Porto no dia 2 de Fevereiro de 1387. São seus filhos, D. Duarte, D. Pedro, D. Isabel, D. Henrique, D. João e D. Fernando.

Com a morte de D. Fernando I em 1383 chefiou a conspiração de Álvaro Pais, em que entraram no Paço e mataram, João Fernandes Andeiro, no dia 6 de Dezembro de 1383, aquando do cerco a Lisboa pela frota castelhana desde 1383 até 1384, e uma assembleia nomeou-o governador. Tomaram os castelos de Estremadura e Torres Vedras, convocaram as cortes e o elegeram rei em Abril de 1385, conquistaram os castelos adversos de Estremadura e Torres Vedras, de Guimarães e de Ponte de Lima. Na Batalha de Aljubarrota em 14 de Agosto de 1385 derrotaram os castelhanos, conquistaram Badajoz e assinaram o Tratado de Paz com a Castela em 31 de Outubro de 1411. Em 1412 D. João I associou ao governo o seu herdeiro, D. Duarte e conquistou Ceuta em 1415, depois de traçar o plano expansionista em Marrocos com os seus filhos D. Duarte, D. Pedro e D. Henrique, e discutiram nas cortes se haviam de prosseguir as conquistas ou se fariam uma paragem. Formou as casas ducais dos seus filhos, D. Pedro e D. Henrique. Morreu em 14 de Agosto de 1433 aos 76 anos de idade.

D. João I no dia da batalha de Aljubarrota 14 Agosto de 1835 fez o voto de ali construir o Mosteiro de Batalha/Mosteiro de Santa Maria da Vitória. As obras começaram em 1388 e foi doado aos Dominicanos e no seu tempo foi construida a cabeceira da igreja, parte do claustro e a Sala do Cabído, sendo o mestre de obras Afonso Domingos, a quem, após a sua morte  sucedeu Huget. Foram construídos ou cmpletados entre 1402-1438: capela do Fundador, completou o claustro e a Sala do Cabidlo e iniciou a construção da abóboda da nave central e do transepto, morre em 1438 e é sucedido por Martim Vasques 1438-1448 e no tempo de D. Afonso V surge o novo claustro (Fernão de Évora, 1448-1477) a igreja de 80,92x22 com 32,46 m de altura, iluminado com profusão, em forma de cruz latina com três naves e uma cabeceira com 5 absides, derradeira obra de Huget, o panteão de D. Duarte (Capela Imperfeita) é planta oitavada, também ali trabalhou Mateus Fernandes, João de Castilho.

 

D. DUARTE, 1433-1438, O ELOQUENTE

Filho de D. João I, casou com D. Leonor de Aragão, preocupou-se com a recuperação das terras alienadas do património régio e estabeleceu a Lei Mental em 1434, que já vinha sendo aplicada desde o governo de D. João I, nos termos da qual os bens da coroa são inalienáveis com 3 princípios, indivisibilidade ( os bens da coroa não podem ser partidos) primogenitura, (os bens doados pela coroa apenas podem ser transmitidos ao filho varão mais velho e legítimo), e masculinidade, são excluídas as filhas, salvo excepções, consolidou a fronteira com a Castela, estabilizou a vida social, combateu a vagabundagem, aplicou a Lei das Sesmarias.

Em 1434 Gil Eanes dobra o Cabo Bojador e em 1437 Afonso Baldaia chega ao Rio de Ouro.

Debateu nas cortes de Évora o empréstimo para a expedição a Tanger, aprovada nas cortes com o apoio de D. Henrique e de D. Fernando, mas D. Pedro manifestou-se contra alegando falta de recursos económicos e que se realizou partindo de Ceuta em 22 de Agosto de 1437 e face a derrota foram obrigados a prometer a devolução de Ceuta ficando como moeda de troca D. Fernando refém, condição que não foi cumprida, embora D. Pedro no Conselho de Leiria de 1438 tenha defendido a libertação de D. Fernando em troca da entrega da Ceuta, pelo que D. Fernando morreu no cativeiro, sendo os seus restos mortais transferidos em 1471 e sepultados no Mosteiro da Batalha.

Quando morreu, seu filho, D. Afonso V, tinha 6 anos de idade, pelo que no testamento deixou o poder, durante a menoridade do filho, entregue a D. Leonor de Aragão, bem como a sua educação. Esta sua decisão provocou contestação. Nas Cortes de Torres Novas de 1438 a nobreza defendeu a rainha, o povo defendeu o infante D. Pedro e outro grupo defendeu a exclusão dos ambos e perante o impasse o infante D. Henrique decidiu que a D. Leonor caberia a educação dos filhos e a administração da Fazenda conjuntamente com o infante D. Pedro, mas esta decisão não teve apoio da maioria e o infante D. Pedro retirou-se para Coimbra a fim de organizar o exército para a luta e D. Leonor partiu para o Crato em 1440 e exilou-se em Castela, onde morreu em 1445. D. Pedro assumiu a educação do infante, D. Afonso V. Prevendo-se a invasão castelhana,  o infante D. Pedro decidiu passar ao ataque aliado ao infante D. Henrique e ficou como regente. D. Afonso V ao atingir a maioridade em 15 de Janeiro de 1446, aos 14 anos de idade, realizaram-se as cortes de Lisboa e foi concedida uma carta de louvor ao tio, D. Pedro, mas depois virou-se contra ele e o afastou da sua regência em 1448, bem como muitos dos seus partidários, os exilados políticos regressaram e os perseguidos passaram a perseguidores. D. Pedro recebe ordens para entregar as armas e permanecer em Coimbra, pelo que D. Pedro pega em armas e morre na batalha de Alfarrobeira, Lisboa, em 1449.

 

D. AFONSO V, 1438-1481, O AFRICANO

Filho do Rei D. Duarte e de D. Leonor de Aragão. D. Leonor. Correspondendo ao apelo do Papa Calisto III, devido a queda de Constantinopla em 1453 nas mãos dos turcos, preparou uma cruzada, mas tornando seu uso desnecessário, usou essas forças para conquistar Alcácer Ceguer em 1458, Arzila em 1471 e Larache. Casou com a sua sobrinha D. Joana, a Beltraneja, e na defesa dos seus direitos entrou em luta com os Reis Católicos para unir Portugal e Castela, mas a sua derrota na Batalha de Toro lançou por terra as suas ambições e partiu para a França em 1476 para obter auxílio de Luís XI, mas este assinou um tratado de paz com os Reis Católicos, pelo que após o seu regresso em 1479 celebrou o Tratado de Alcáçovas pondo termo à Guerra de Sucessão de Castela entre D. Afonso V e os Reis Católicos, renunciando ao seu direito ao reino de Castela, depois em cláusulas acessórias ao tratado o principie D. João II reconheceu a Portugal o senhorio da Guiné, da Madeira e dos Açores e a conquista da Fez e a Espanha ficou com as Canárias e o reino de Granada. D. Afonso V morre em Sintra em 1481.

Seu filho D. João II acompanhou-o na conquista de Arzila, onde foi armado cavaleiro, e entrou em acção na Batalha do Toro em Zamora em 1476 e ocupou a regência quando D. Afonso V partiu para a França e quando decidiu que ia seguir a vida religiosa assumiu o poder em 1477, mas face o seu regresso devolveu-lhe o trono.

 

D. JOÃO II, 1481-1495, O PRÍNCIPE PERFEITO

Quando príncipe D. João II para escoar o ouro africano decidiu construir uma fortaleza e organizou uma expedição sob chefia de Diogo de Azambuja que saiu de Lisboa em 1481 com uma armada de 13 navios, dos quais 10 caravelas com todo o material para edificar a fortaleza, incluindo pedra aparelhada e aí ficou Azambuja como 1º capitão, o nome de Castelo ou Fortaleza de São Jorge é devido a devoção de D. João a esse santo, foi uma fortaleza-feitoria, capitania era dada por período de 3 anos e por lá passaram João de Barros 1520, Diogo Lopes de Sequeira, Brás de Albuquerque, Estêvão de Gama e Duarte Pacheco Pereira, o domínio português terminou em 1637 com a ocupação holandesa.

Casou com D. Leonor em 1473, foi administrador do mestrado de Avis em 1464, assumiu o poder em 1477 com a morte de D. Afonso V. Centralizou o poder e tornou-se rei absolutista, pelo que a nobreza preparou uma conspiração, que sendo descoberta, D. João II condenou a morte o Duque de Bragança em 1483 e o Duque de Viseu em 1484. Mandou as expedições de Diogo Cão e de Bartolomeu Dias ao Congo e a Angola, bem como as expedições de Afonso Paiva e de Pêro Covilhã à Índia por via terrestre. Faleceu em 1495 e nomeou em testamento seu sucessor, seu cunhado, D. Manuel I.

Absolutismo – sistema governativo em que o poder do soberano é absoluto e não está submetido a nenhum controlo. Em Portugal dos finais do séc. XV à revolução liberal de 1820 os monarcas detinham todos os atributos da soberania – fazer as leis, aplicar a justiça suprema, mandar cobrar os impostos, nomear funcionários, manter exército permanente, mas na pratica estava limitado pela sobrevivência das cortes, conselho do rei, concelhos, direitos das gentes que garantia a propriedade, costumes e privilégios, leis morais e a dificuldade de comunicações entrava a actuação dos funcionários régios – se os reis absolutos detinham simultaneamente os poderes legislativos, executivo e judicial, enfrentavam as resistências sociais e regionais – só com Pombal surge o absolutismo esclarecido e dá-se a criação do Erário Régio, Junta do Comércio, Intendência geral da Polícia, Real Mesa Censória, reestruturação da Inquisição e do Exercito, criação das companhias comerciais monopolistas, protecção as manufacturas, reforma da Universidade e fundação dos Estudos Menores e por isso teve que enfrentar as camadas das classes privilegiadas – nobreza ultramarina, Companhia de Jesus e com D. Maria I dá-se a centralização administrativa.

 

D. MANUEL I, 1495-1512, O VENTUROSO

Teve sucessivos matrimónios entre a família real espanhola, com D. Isabel, herdeira dos Reis Católicos, nascendo o filho D. Miguel, que foi jurado herdeiro de Portugal, Castela e Aragão, após a morte da sua mãe por parto, mas morreu em 1498-1500, e para reforçar essa posição determinou em 1496 a expulsão dos judeus e mouros, caso se não se convertessem no espaço de 12 meses.

Subiu ao trono em 1495, como adoptivo e herdeiro titulado, como Duque de Beja, Senhor de Viseu, Covilhã e Vila Viçosa e condestável do reino, governador do Mestrado da Ordem de Cristo.

Como rei absolutista, convocou menos as cortes, fez reforma jurídica e administrativa, unificou o sistema municipal, promulgou novo regime de sisa, reformou os pesos e medidas e os forais, iniciou a política absolutista e transformou a expansão numa vasta empresa controlada pelo poder central, num império intercontinental através da rota do Cabo estabelecida por Vasco de Gama em 1498, com a descoberta do Brasil em 1500 por Álvares Cabral, e conquistou as praças marroquinas de Safim, Azamor, Titi e Almedina, e  o capitalismo monárquico centrado nos proventos da pimenta da Índia permitiu a preparação das frotas e investidas bélicas, mas o tráfico oriental, entrou em regime deficitário por altura de 1512.

Na arte manuelina surgiu o mosteiro dos Jerónimos, Torre de Belém, de influências árabes e Custódia de Belém, peça de ourivesaria com 0,83 cm de altura, expressando eventos ultramarinos, feita com 1 500 metacais de ouro que Vasco da Gama trouxe de Quiloa no regresso da sua 2ª viagem à Índia, como tributo do respectivo régulo.

Dia 12/3/1513 D. Manuel enviou ao Papa Leão X a famosa embaixada chefiada por Tristão de Cunha com presentes magníficos, como pedrarias, tecidos e jóias, um cavalo persa, um elefante que executava várias habilidades e um rinoceronte da Índia. Estabeleceu relações diplomáticas com a China e a Pérsia. Em  Marrocos foram conquistadas as praças de Safim, Azamor e Agadir.

 

D. JOÃO III, 1521-1557, O PIEDOSO

É  o 2º filho varão de D. Manuel e 1º do seu matrimónio com D. Maria. É aclamado Rei em 1521. Casou com D. Catarina de Áustria, filha de Carlos V. Estabeleceu na sua 1ª fase de governação, a inquisição e o Santo Ofício para manter pura a fé católica, reprimir os apóstatas, heresias, cismas, superstições, feitiçarias, idolatrias, práticas pagãs, sodomia, fornicação com os animais, etc. Reformou a Universidade, introduzindo a cultura humanística sob a orientação de Erasmo, Cleonardo e Damião de Góis. Criou o Colégio das Artes, introduziu em 1540 a Companhia de Jesus no país e adoptou o ideário da Contra-Reforma; o país expandiu-se na África Oriental, Ásia Meridional, Médio Oriente e Extremo Oriente e iniciou na década de 1530 colonização do Brasil com sistema de capitanias-donatárias, onde instalou o 1º grande engenho de açúcar, assegurou o exclusivo das trocas comerciais com o Ocidente através da Casa da Índia e da Feitoria de Antuérpia

Na sua 2ª fase de governo os Turcos e os Venezianos retomam a Rota do Oriente, concorrendo com a Rota do Cabo e causando o bloqueio do capitalismo do Estado, encerramento da Feitoria de Flandres, e oscilação da comercialização das especiarias pela Casa da Índia. Abandonou, devido a expansão xerifana, as praças do norte de África, excepto Ceuta, Tanger e Mazagão. Sensibilizado pela corrente reformista tornou-se déspota e reforçou a censura.

Os Jesuítas entraram em Portugal em 1540 e fundaram 3 casas e em 1600 já tinham 20 casas com 600 membros, hospitais, asilos, escolas, seminários, uma universidade, vários colégios e seus sacerdotes encontravam-se na Metrópole e no Ultramar. Havia padres confessores, capelães e conselheiros, criaram e aperfeiçoaram método especial de educação espiritual e cultural, combateram as heresias, estiveram aliados a inquisição durante um século, mas a partir de 1620 divergiram-se do Santo Ofício e apoiaram a causa da independência de D. João IV em 1640.

 

D. SEBASTIÃO, 1557–1578, O DESEJADO

Filho de D. João III e de D. Catarina de Áustria, com a morte de D. João III é desejado pelo povo para não cair o trono nas mãos de Filipe II, filho de Carlos V e é elevado ao trono em 1557, na menoridade, e só toma a conta do poder em 1568.

A sua mãe tornou-se regente com base na última vontade do rei, mas as cortes de Lisboa em 1562 passaram a regência ao cardeal D. Henrique, por lhe terem sido imputadas as culpas da crise do país, e delinearam, sendo os mouros inimigos, a conquista da África Setentrional para aí estender o império lusitano, ao serviço de Deus e em prol da cristandade e como fonte de trigo, carne e ouro, enquanto a busca de ouro e da prata prosseguiam em Angola e em Moçambique a par da colonização.

D. Sebastião assume o poder em 1568, reforma a administração e a justiça e com o apoio da nobreza e da Companhia de Jesus, prepara o reino a guerra, visita Alentejo e o Algarve, constrói fortalezas em Portugal e nas praças do norte de África, como defesa contra a pirataria francesa e inglesa, que infestavam as águas portuguesas e impediam as rotas para a Índia e ao Brasil, bem como contra os ataques muçulmanos.

Era sensível a amizade, jovial, compreensivo, corajoso, justo, amigo dos pobres, desejoso de fazer reinar a justiça, espírito caritativo e sofredor, mas também colérico, socorria os povos na fome e nas epidemias. Partiu com o seu exército e mercenários para Marrocos, onde bateu com bravura mas foi derrotado na batalha de Alcácer-Quibir em 1580.

Desde meados de 1500 o império português formava o complemento do império espanhol, devido a sua dependência da produção argentífera espanhola, no tráfico com a Índia, China e Extremo Oriente, o que fizera substituir a Antuérpia por Sevilha para as necessidades vitais do comércio, reforçando a rota mercantil espanhola via Manila entre México e China e Sevilha em prejuízo da rota portuguesa via Cabo, no que diz respeito ao Extremo Oriente, e comerciantes e navios portugueses circulavam entre Espanha e outras partes da Europa e por sua vez os capitalistas espanhóis tomavam parte no tráfico português e nos negócios da Coroa portuguesa.

 

                                                  III  DINASTIA FILIPINA 

Durante a ocupação filipina (espanhola) em Portugal (1580-1640), o Império Português ficou  desprotegido, visto que o Rei de Espanha (simultaneamente Rei de Portugal) não foi capaz de defender e fortificar o Império Português, enquanto estava ocupado a defender, colonizar e controlar a América do Sul e em travar guerras com as outras potências europeias, nomeadamente a Inglaterra e a Holanda. Os inimigos de Espanha tornaram-se automaticamente inimigos de Portugal e os territórios portuguesas sofreram inúmeros ataques dos ingleses, holandeses e franceses e muitas deles, por falta de soldados e fortificações, caíram nas mãos dos inimigos.

 

FILIPE I (Filipe II da Espanha), 1580-1598, O PRUDENTE

Filho do Imperador Carlos V e de D. Isabel de Portugal, bisneto dos Reis Católicos e neto de D. Manuel I de Portugal e de Filipe, O Belo, da Alemanha. Em 1543 casou com a prima D. Maria, filha de D. João III de Portugal para conseguir união ibérica, mas passados 2 anos enviuvou-se, e obedecendo a política de Carlos V de dominar a Inglaterra, casou em 1554 com a Rainha Maria Tudor, conhecida como sangrenta, pela feroz perseguição movida a igreja anglicana, mas Filipe não se adaptou a vida inglesa e já viúvo em 1559  tornou-se  governador dos Países Baixos. Seu pai, Carlos V, abdicou do trono e separou a Espanha do Império, fez pazes com a França, a Paz de Cateau-Cambrisis e casou Filipe com Isabel de Valois, filha de Henrique II de França e de Catarina de Médicis, mas Filipe concorreu ao trono francês contra seu cunhado Henrique de Navarra, futuro Henrique IV, iniciando a nova guerra. Casou com D. Maria de Áustria pela 4ª vez, filha do imperador Maximiliano que lhe deu sucessão.

Em 1570 reprimiu a revolta dos Países Baixos através do duque de Alba, mas estas declaram-se Províncias Unidas.

A sua frota deteve o poder turco no Mediterrâneo, derrotando-os na Batalha de Lepanto, em 1571, sob comando do seu irmão D. João de Áustria

Com o desastre de Alcácer-Quibir ocupou Portugal através do duque de Alba.

Em meados do século XVI dá-se o expansionismo inglês no além-mar e incremento do seu poder naval e da actividade dos seus corsários nas costas ibéricas, como Drake e Hawkins, contra as armadas espanholas e portuguesas, que vinham da Índia e do Novo Mundo, causando graves prejuízos ao comércio marítimo peninsular e em Fevereiro de 1587 é executada em Londres Maria Stuart. Filipe I para acabar com esse poderio inglês preparou a Invencível Armada composta de 130 embarcações fortemente artilhadas, com 30 000 soldados e marinheiros, dos quais 12 navios eram portugueses, que no dia 27 Maio 1588 largarou-se do Tejo com destino às Ilhas Britânicas, Canal de Mancha; os ingleses com uma frota muito reduzida evitaram o combate naval e fizeram surtidas isoladas com navios carregados de substâncias incendiárias e explosivas contra a Invencível Armada, obrigando a esta dispersar-se em pânico. Mau tempo afundou a maior parte dos navios. Uma parte tentou rodear as Ilhas Britânicas para voltar a Espanha.

Mandou construir o Mosteiro e o Palácio de São Lourenço de Escorial e transferiu em 1563 a capital de Espanha para a cidade de Madrid.

 

FILIPE II (Filipe III de Espanha), 1598-1621, O PIO

Filho de Filipe I e de D. Ana Maria de Áustria, casou com Margarida de Áustria. Reconheceu a independência das Províncias Unidas em 1609. Devolveu a Arzila aos mouros, fato que sujeitou Mazagão ficou  a fortes ataques dos mouros em 1562. Expulsou os mouros de Espanha em 1609, provocando a crise económica e social.

A Inquisição crescera e tornara um estado dentro do Estado e era formada de Inquisidor-Mor, Conselho Geral e 4 tribunais, Lisboa, Évora, Coimbra e Goa, em que cada tribunal tinha um secretário (Mesa) com 3 inquisidores e diversos deputados, notários, funcionários menores, procuradores, advogados, meirinhos, guardas, barbeiros, médicos, capelães, solicitadores, e contínuos e nos portos do mar tinham visitadores das naus, ajudados por escribas, guardas, interpretes, para inspeccionar navios entrados e para confiscar materiais heréticos e toda a cidade principal tinha seus comissários para prender, ouvir acusações, interrogatórios, etc. havia também familiares, cuja entrada estava condicionada a posse de algum património seu, mais de um milhar espalhados pelo país para ajudar a inquisição espiando e denunciando. Em teoria o inquisidor-mor era nomeado pelo soberano, mas só o Papa o podia depor, portanto funcionava como delegado papal. A partir de 1615 a Inquisição e o Estado foram separados.

Na Guerra dos 30 anos com início em 1618 a Espanha ficou ao lado do Império com a garantia da neutralidade francesa.

 

FILIPE III (Filipe IV de Espanha), 1621 – 1640, O GRANDE

Filho de Filipe II e de Margarida de Áustria, seu braço forte era o Conde Duque de Olivares.

Período de luta da supremacia europeia em que sobressaem Richelieu e Mazarino. Com os Tratados de Vestefália 1648 e dos Pirenéus 1659 deu-se a vitória politica e militar da França e hegemonia francesa.

Em 1621 a Espanha teve que enfrentar o poderio holandês no continente americano através da Companhia das Índias Ocidentais e que conquistou a Baía, no Brasil, em 1624, mas pouco depois era reconquistada, e em 1630 e 1639 conquistaram Pernambuco e mais 4 capitanias no norte do rio São Francisco, formando o embrião do Brasil holandês e mais tarde a Inglaterra ocupou as Ilhas Jamaica, na Zonas das Antilhas.

Em 1637 caiu S. Jorge de Mina nas mãos holandesas.

Do seu 2º casamento com a D. Maria Ana de Áustria nasceu entre outros o príncipe D. Carlos, 1661-1700, que herdou o trono com o nome de Carlos II de Espanha.

 

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