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A Região Administrativa Especial de Macau foi criada em 1999 com um benefício de uma autonomia progressiva em todos os assuntos, exceto nos negócios estrangeiros e defesa, até o ano de 2050. É dirigida por um Chefe do Executivo, eleito por uma Comissão Eleitoral de 300 personalidades do território, para um mandato de 5 anos. É responsável perante o Governo Popular Central da República Popular da China. A sua população é de 530 mil pessoas. Tem uma área de 29 km2, no entanto tem sido hábito efectuar muitos aterros para  "ganhar" mais terra à foz do Rio das Pérolas para  construção civil, por isso a sua área superficial está em constante aumento. As indústrias tradicionais, nomeadamente o vestuário e os têxteis, têm vindo a perder cada vez mais sua importância na economia do território. As exportações são dirigidas aos mercados dos E.U.A e da União Europeia. Em Julho de 2005 a UNESCO considerou o centro histórico de Macau como Património Mundial da Humanidade. Foi teritório português até 1999, passando a ser uma Região Administrativa Especial de Macau, cujas autoridades pugnaram-se em preservar a herança portuguesa de modo a permitir a interligação comercial ao mundo ocidental e aos países da expressão portuguesa, nomeadamente Brasil e Angola. Em 1981, foi criada a Universidade de Macau.  Escola Portuguesa de Macau é a única escola secundária portuguesa existente.

HISTÓRIA – A chegada dos navegadores portugueses inicia-se em 1513, sob pretexto de secar a sua carga. Só em 1535 são autorizados pelas autoridades  cantonesas a ancorar os seus navios e comerciar géneros provenientes do Ocidente, de Goa e de Malaca, mediante o pagamento de um tributo anual, na pequena aldeia de pescadores “A-MA-KOO” como recompensa pelo ajuda dada no combate a activiade dos piratas, permitindo ligação comercial da China com Japão. Pelo serviço prestado,  em 1557 o imperador chinês Chi-Tsung reconheceu os portugueses como parceiros comerciais da China. Os portugueses ali estabelecidos tinham que pagar, além do tributo anual, um imposto sobre todos os produtos chineses e sobre todos os produtos chineses exportados pelos portugueses. Em 1573 para controlar os impostos e emitir licenças para a construção e reparação dos edifícios do Estabelecimento enviaram para Macau um grupo de funcionários chineses, os mandarins. A origem do seu nome deve-se a dois nomes: deusa A-Má e o local onde esta deusa tinha o templo, que era uma baia "GAU". O lcal passou a ser chamada Baia de A-Má. A junção destes dois toponimos passou a ser: "AMAGAU", que com o tempo transformou-se em Amacao, depois Macao e por fim Macau.

O comércio entre China, Japão e Europa passou a ser o monopólio dos portugueses e Macau tornou-se o primeiro entreposto comercial europeu, depois cultural e religioso, entre o Ocidente e o Oriente, de exportação de sedas e porcelanas. A comunidade prosperou e foi estabelecido um Senado e uma diocese católica. O Senado era composto de europeus e chineses.

Nos finais de 1600 havia na cidade 150 fogos europeus e 19 500 cristãos, mas a maioria da população eram os não cristãos, no entanto por volta de 1746 apenas havia 50 europeus e o Senado era maioritariamente mestiço, quando Pombal em vão tentou introduzir igualdade aos amarelos.

No dia 22 de Junho de 1622, 800 soldados holandeses desembarcaram na praia de Cacilhas e avançaram  para o centro da cidade, sofrendo pesado bombardeio de canhões da Fortaleza do Monte e após  2 dias de combate, no dia 24 de Junho, um padre jesuíta disparou um tiro de canhão e acertou com precisão num vagão carregado de pólvora pertencente aos holandeses, causando-lhes grandes baixas e a derrota e a pequena guarnição militar de Macau (composta aproximadamente por 200 soldados e por algumas fortalezas, nomeadamente a Fortaleza do Monte e a Fortaleza da Guia) derrotou as forças invasoras. Os holandeses, derrotados, atiraram-se ao mar na tentativa de alcançar os barcos e muitos se afogaram e um dos barcos, superlotado, afundou-se. Dizem os registos portugueses que morreram algumas dezenas de portugueses e cerca de 350 holandeses em combate ou afogados. Para Macau, desprevenida, a vitória foi considerada um milagre. Após a vitória, os moradores de Macau passaram a comemorar o dia 24 de Junho, dia da vitória, como o "Dia da Cidade". É também neste dia que comemora o São João Baptista, o Padroeiro da Cidade. Conta a lenda que pelo seu manto, foram desviados os tiros dos inimigos, salvando a cidade dos invasores holandeses. Este dia feriado  era comemorado todos os anos com grandes festas  até 1999, data da transferência da soberania de Macau para a China.

Após esta tentativa de invasão holandesa, o Governo de Lisboa, a partir de 1623, passou a enviar um Governador português para Macau para melhorar a administração e a defesa, conjuntamente com o "Leal Senado", a  primeira câmara municipal de Macau. A pequena guarnição militar de Macau foi também reforçada. A bandeira portuguesa esteve sempre içada em Macau, mesmo durante a ocupação filipina em Portugal, por isso D. João IV, Rei de Portugal, em 1654 recompensou este acto de confiança e lealdade gratificando Macau,  com o título de "CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL".

Em 1688 a China estabeleceu uma Alfândega em Macau para controlar o comércio e as taxas sobre as exportações em navios portugueses, enquanto as importações pagavam os direitos ao Município de Macau, excepto se fossem reexportados para a China, caso em que os direitos eram pagos a Alfandega Chinesa. As autoridades portuguesas eram obrigadas também a prestar honras militares a autoridades chinesas, aos seus mortos e assistir às festividades chinesas. Mas na década de 1830 a Alfandega Chinesa foi extinta e o Senado já relacionava directamente com a China e outros estados asiáticos e era sua principal receita o comercio de sândalo, ouro, cera e escravos entre Macau e Timor.

Macau tornou-se também um importante ponto de partida de missionários católicos, nomeadamente a China e o Japão. Além da evangelização, estes missionários promoveram também o intercâmbio étnico, cultural e científico entre o Ocidente e o Oriente. Foi fundado o Colégio de São Paulo no séc. XVI e o Seminário de São José no séc. XVIII. Estas duas instituições tinham a função de formar missionários e padres. Devido à grande importância de Macau, o Papa Gregório XIII criou a Diocese de Macau em 23 de Janeiro de 1576.

""Há 187 anos a revolução liberal portuguesa de 1820 vingou-se também em Macau, e os os principais dirigentes do governo, Leal Senado e militares afectos do regime anterior foram  varridos dos seus postos, sendo muitos deles presos e enviados para Goa a fim de ali serem julgados, principalmente os militares que abertamente se recusaram a reconhecer a “Constituição”.Mas quando os ingleses derrotaram a  China  na Guerra do Ópio, de 1840-1842, foi obrigada a ceder à Inglaterra a Ilha de Hong-Kong, que passou a ser o porto mais importante da China e a  importância do porto de Macau ficou reduzida e muitos comerciantes crioulos macanenses foram para Hong-Kong. Mas Macau dedicou-se a exportação de mão-de-obra chinesa, carácter trafico de escravos, para as plantações de Cuba e de Perú. Aproveitando a fraqueza da China Macau deixou de pagar os impostos e o aluguer em 1845 e em 1849 o Governador João Ferreira do Amaral expulsou os mandarins pondo fim à autoridade chinesa em Macau. Antes desta data, existia em Macau 3 autoridades distintas: local (Leal Senado), portuguesa (Governador) e chinesa (mandarins). Macau fez parte do Estado Português da Índia até 1844, data em que foi criada a província de Macau, Solar e Timor, residindo o Governador em Macau e  um governador subalterno em Timor. Aproveitando a derrota da China na Guerra de Ópio os portugueses ocuparam o Norte de Macau e estabeleceram como fronteira da cidade o local designado actualmente como  "Portas do Cerco";  em 1851 foi ocupada a ilha de Taipa, e em 1864 conquistaram a ilha de Coloane, derrotando os piratas chineses que aí se encontravam estabelecidos. Em  1865 construiu-se o primeiro farol do mar do Sul da China, o Farol da Guia.

Decapitado o governo, o Leal Senado, foi a votos elegendo uma vereação liberal que passou a governar Macau segundo os princípios democráticos que a nova lei fundamental de Lisboa proclamava e garantia. Simultaneamente eram retiradas todas prorrogativas políticas ao Ouvidor, Miguel de Arriaga (juiz de direito cujos poderes à época extravasavam largamente os de um mero magistrando judicial) e as atribuições do Governador, José Osório Albuquerque  ficavam estritamente limitadas ao comando das tropas. Além disso Macau cortava os laços de dependência de Goa a que estava submetida no ordenamento colonial vigente proclamando oficialmente que passava a depender directamente de Lisboa. Na prática tratava-se de uma virtual declaração de independência, já que todas as comunicações entre Macau e o Terreiro do Paço passavam obrigatoriamente, ao tempo, pela “Índia Portuguesa”.

Mas em Goa o liberalismo foi efémero e o governo tornou-se anti-constitucional. Assim sendo havia que chamar à ordem os “rebeldes” macaenses. Para o efeito uma considerável força de infantaria apoiada por artilharia de campanha foi embarcada na fragata “Salamandra” e enviada para a China a fim de fazer regressar ao redil do “ancient regime” os insubmissos liberais. O capitão-de-mar-e-guerra Joaquim Mourão Garcez Palha comandava o corpo expedicionário e o imponente navio.

Durante alguns meses, a fragata pairou ao largo esperando o momento propício para efectuar o assalto. Esse momento surgiria a partir da altura em que a China desse sinais claros de que não interviria na contenda. A certeza chegou a 18 de Setembro pela madrugada quando a “Salamandra” fundeou junto à fortaleza do Bom Parto (bem perto do local onde se ergue hoje a residência do Cônsul Geral de Portugal em Macau), desembarcando os cerca de duzentos fuzileiros que trazia a bordo bem como o esquadrão de artilharia. O golpe de mão foi bem sucedido.

Num só dia todas as posições estratégicas da cidade foram ocupadas, ou entregaram-se sem resistência incluindo o Leal Senado. Os liberais, que puderam, escaparam para Cantão, os restantes, nomeadamente o presidente da Câmara coronel Paulino Barbosa e vários outros oficiais foram detidos e internados nos presídios da fortaleza do Monte e da Guia. Garcez Palha por seu turno desembarcou também para assumir o cargo de Governador civil e militar declarando a lei marcial.

Em todos estes episódios que como disse duraram vários meses até à conclusão final do desembarque a China manteve silêncio e cautelosa neutralidade. Afinal o caso parecia ser exclusivamente entre portugueses. O vice-rei de Cantão limitou-se apenas inquirir oficialmente sobre o estado de tranquilidade de Macau naquela conjuntura: – Recebi uma representação acerca do desembarque dos soldados de Goa e que o governo (de Macau) está entregue a homens bons… V. Mercê me referirá pormenorizadamente quais são os que governam e também lhe ordeno que mande todos os portugueses que coíbam os seus criados de beber vinho para não haver desordens”. Escrito no dia 28 de Setembro este seria o primeiro de uma série de ofícios do mandarim Choi-me que supervisava Macau dirigido ao Procurador dos Negócios Sínicos que por seu turno fazia a ligação com a China.

O segundo ofício, de Choi-me, muito mais imperativo surgiria pouco depois dizendo: “de acordo com a lei toda a fragata estrangeira não pode entrar nesse porto de Macau, por conseguinte esta também não. Qualquer correspondência com ela pode ser feita por meio de botes ou, lanchas. Que a fragata não demore o tempo da partida para não haver desordem. Tal lhe ordeno que obedeça”. O mandarim concluía exigindo explicação sobre quais as razões que levaram a Salamandra e infringir a legalidade e permanecer atracada a Macau em vez de se manter fundeada ao largo.

Na resposta, datada de 23 de Outubro seguinte, o Procurador de Macau explica que a atracação da “Salamandra” se devia à necessidade de efectuar reparações urgentes e desembarcar marinheiros doentes e que o navio partiria mal estivesse pronto. Todavia certo é que tal não aconteceu.

Essa demora parece ter alarmado a China, receando que o pretexto de reparações do vaso de guerra escondesse de facto intenções de Lisboa de iniciar uma presença naval permanente em Macau suficientemente capaz de apoiar operações hostis ao “Império do Meio” em qualquer ponto das suas extensas costas intenções que as dimensões da “Salamandra” poderosamente armada indiciavam ser possíveis. Recorde-se que desde o tempo das caravelas nunca um navio de guerra de tal envergadura tinha estado em Macau. A desconfiança levou o próprio Vice-rei de Cantão a ordenar ao Procurado de Macau que expedisse “já, Já! uma ordem à dita fragata para partir sem demora alguma e no dia da partida dar disso parte”. Esta ordem era datada de 4 de Janeiro de 1824. A “Salamandra” mantinha-se imperturbavelmente ancorada no Porto Interior há mais de cinco meses e ali haveria de permanecer bastante mais tempo.

Na verdade a presença demorada do navio não se devia a qualquer nova estratégia militar de Portugal relativamente à China, mas apenas a questões de política interna da colónia decorrentes da sublevação.

De facto, se o assalto dos absolutistas foi um êxito e executado com rapidez e precisão, já a pacificação do Território demorou o seu tempo. Os tribunais instituídos para julgar os rebeldes e as sentenças ditadas, bem como as nomeações efectuadas para o preenchimento dos principais cargos públicos civis e militares por elementos afectos ao antigo regime exaltaram a população. Politicamente Macau estava ao rubro. O regresso do antigo ouvidor, Miguel de Arriaga e as posições intransigentes do bispo Francisco Chacim não contribuíam também em nada para acalmar os espíritos. A revolta só não voltou a transbordar porque os poderosos canhões da “Salamandra” estavam bem à vista de todos e todos sabiam que Garcez Palha não hesitaria em usá-los ao mais leve sinal de desobediência civil, ou tentativa de pronunciamento dos militares liberais que aceitaram a derrota e disciplinadamente se integraram na nova (velha) cadeia de comando, mas que continuavam a dar evidentes sinais de terem sido vencidos, mas não estarem convencidos.

A fragata zarpou finalmente de Macau com destino a Goa, no dia 23 de Novembro de 1824, ou seja mais de um ano depois da primeira exigência de partida do governo de Cantão fazendo suspirar de alívio o Vice-rei.

Depois da partida definitiva da “Salamandra” e do interregno absolutista a democracia liberal regressaria definitivamente a Macau cerca de dez anos depois com a tomada de posse do 1º tenente da Armada Bernardo José de Sousa Soares Andrea, como governador de Macau.""In. O Navio Escola Sagres e a Fragata Salamandra 24-08-10 « Tempos d´oriente

 

Em 1885 Macau tornou-se um porto livre e desenvolveu o comércio de ópio da Índia, seda, algodão, fogo-de-artíficio, arroz, açúcar, chá, madeira aromática de sândalo de Timor, tabaco, etc.

Em 1887 a  dinastia Qing, cedeu a Portugal direitos perpétuos sobre Macau e suas dependências, as Ilhas de Taipa e Coloane, através do Tratado de Amizade e Comércio Sino-Português 1887. É de referir que neste período as principais potências europeias humilharam o  Governo Imperial Chinês da Dinastia Qing, forçando-o a assinar os chamados "Tratados Desiguais", obrigando o Governo Chinês  a abrir os seus portos comerciais, a aceitar a ocupação europeia em chamadas "áreas de influência europeia". 

Em 1901, o Governo de Macau, querendo criar a sua própria moeda oficial, autorizou, o Banco Nacional Ultramarino (BNU) a emitir notas com a denominação de patacas e as primeiras notas impressas entraram em circulação em 1906 e 1907 e ao iniciar a República em 1910 Macau tinha uma guarnição de 500 militares, sendo 1/3 europeus, e uma população de 78 000 habitantes.

O Japão respeitou a neutralidade de Portugal na 2ª Grande Guerra, mas, apesar disso, estabeleceu uma embaixada que fazia também de centro de espionagem e detecção de figuras chinesas anti-ocupação nipónica, fugidas de China para Macau e o porto de hidroaviões ali existente foi bombardeado, alegando depois erro acidental, e as Ilhas de Lapa, Dom João e Montanha foram ocupadas pelo Exército Japonês em 1938 a Guarnição Militar não tinha capacidade de defender esta pequena colónia portuguesa. Apesar da neutralidade de Macau, o porto de hidroaviões existente na altura foi bombardeado, tendo sido alegado erro acidental, e o exército japonês ocupou em 1938 as ilhas de Lapa, Dom João e Montanha povoadas por missionários portugueses. Estas ilhas acabada a guerra foram ocupadas pela China. 

A população de Macau aumentou para o dobro na Segunda Guerra Mundial devido à afluência de pessoas que fugiram à ocupação japonesa do sudeste asiático, causando a sobrepopulação e a carestia de bens, sobretudo os bens alimentares. A principal proveniência dos refugiados era das cidades vizinhas, Guangzhou (Cantão) e Hong Kong. Finda a guerra os refugiados chineses regressaram para as suas respectivas terras natais.

Após a implantação da República Popular da China (1949), surgiram alguns incidentes e motins provocados pelos chineses residentes pró-comunistas que queriam reunir Macau à China.

Em 1954, a cidade organizou pela primeira vez o Grande Prémio de Macau que consiste numa série de espectaculares corridas de automóveis e motociclos. Esta corrida anual de 4 dias tornou-se numa atracção turística importante de Macau e a cidade continua a organizá-la em todos os meses de Novembro. Desde o ano de 1954, os melhores pilotos do mundo são convidados a participar num dos circuitos mais emocionantes e perigosos do Mundo. Trata-se de um circuito que percorre o meio da cidade, intercalando longas rectas (Porto Exterior) com as sinuosas curvas do monte da Guia, local onde mais acidentes são registados.

Em 1966, os residentes chineses na impossibilidade de obter uma licença para construção de uma escola privada na ilha de Taipa, começaram ilegalmente a sua edificação. A polícia prendeu os responsáveis com o uso de violência. Aproveitando este incidente um grupo pró-comunista de professores e estudantes chineses, influenciados pela Revolução Cultural de Mao Tse-Tung,  no dia 1 de Dezembro,  fizeram grandes protestos em frente ao Palácio do Governador, e  entraram à força no Palácio e pronunciaram, durante o caminho, frases maoístas e canções revolucionárias. No dia 3 de Dezembro, o Governo deu ordens para prendê-los. Esta ordem gerou uma vaga de descontentamento e protestos por parte da comunidade chinesa e deitaram abaixo a estátua do Coronel Vicente Nicolau de Mesquita, que se localizava no Largo do Senado (o centro da cidade) e incendiaram preciosos documentos dos Arquivos do Leal Senado (Câmara Municipal da cidade) e da Santa Casa de Misericórdia. As leis marciais foram declaradas pelo Governo e os incidentes causaram 11 mortos e cerca de 200 feridos. Este incidente é chamado Motim “1-2-3” por ter durado 3 dias, mas a comunidade chinesa continuou a pressionar e protestar e adoptou a política dos “3 não’s” – não entregar impostos, não prestar serviços e não vender produtos aos portugueses, causando confusão e medo na comunidade portuguesa e macaense, e muitas famílias portuguesas abandonaram Macau, com destino a Portugal e Hong Kong.  A pressão dos chineses era tanta que o Governo Português  propôs a devolução de Macau a China se a situação não melhorasse, mas o Comendador Ho Yin, juntamente com a elite chinesa, previram o colapso de administração em Macau e pediu calma a comunidade chinesa, e  impediram também a invasão pelos Guardas Vermelhos da RPC em Macau.

Nesta decisão chinesa contou a importância de Macau e de Hong Kong, como dois únicos portos de entrada de divisas estrangeiras e de remessa dos emigrantes chineses, bem como de importação de produtos ocidentais e de  de exportação de produtos chineses para o Ocidente. E China e Portugal no dia  29 de Janeiro de 1967 concluiram um acordo, nos termos do qual o Governo de Macau pediu desculpas a comunidade chinesa e reconheceu a igualdade entre portugueses e chineses e anulou o “Tratado de Amizade e Comércio Sino-Português de 1887 e  comprometeu-se em não dar apoio e asilo político aos nacionalistas chineses. A partir daqui os chineses nunca mais levantaram nenhum motim e Macau passou a viver um período de calma e de coexistência entre a comunidade portuguesa/macaense e chinesa.

Depois da Revolução dos Cravos 25 de Abril de 1974 em Lisboa, Portugal declarou  que não tinha nenhuma intenção de manter a soberania sobre Macau contra a vontade das autoridades de Pequim. Os dois países entenderam-se fazer uma transferência harmoniosa e o Governo de Macau fez a desmilitarização da cidade e incentivou a participação da população (quer portuguesa quer chinesa, quer qualquer raça) da cidade na administração de Macau. Em 1976 foi criada  a Assembleia Legislativa de Macau e em  1979 foi assinado um Tratado de Restabelecimento das relações diplomáticas entre Portugal e a China,  reconhecendo Macau como território chinês sob administração portuguesa Em  1987 assinaram a Declaração Conjunta Luso-Chinesa sobre a questão de Macau, definindo o enquadramento geral das grandes questões fundamentais do futuro de Macau e das suas gentes e concordaram ambos que Macau iria passar de novo à soberania chinesa no dia 20 de Dezembro de 1999. tornou-se nesta data numa Região Administrativa Especial da China. Nos termos deste acordo com força de direito internacional e depositado nas Nações Unidas, obteve-se um sistema político, judicial, social, cultural e económico, incluindo a manutenção do português como segunda língua oficial, salvaguardando um amplo quadro de direitos, liberdades e garantias de matriz portuguesa, humanista e ocidental,

Após a transferência, Macau foi novamente militarizada, por tropas do Exército de Libertação Popular da República Popular da China.
 
O novo Governo da RAEM aboliu logo os 2 municípios (Município de Macau - ou "Leal Senado" - e o Município das Ilhas), mas manteve a divisão das 7 freguesias de Macau como uma divisão simbólica  e em sua substituição criou um novo órgão administrativo, o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM). Pôs fim  ao monopólio de jogos da companhia de casinos de Stanley Ho, em 2002, criando  competição e crescimento no sector dos jogos de Macau, com novas companhias de jogos, principalmente  norte-americanas, a investirem  neste sector de grande importância para a economia de Macau, o que provocou o aumento do número de turistas (na sua maioria oriundos da China) contribuindo  para o grande crescimento económico, tornando Macau  principal centro mundial da indústria dos jogos de casinos. Ao mesmo tempo combateu o crime. 

Em 1981 foi criada a Universidade de Macau. A Escola Portuguesa de Macau é a única que oferece ensino secundário em português. Em 15.07.2005 o Centro Histórico de Macau foi inscrito na Lista de Património Mundial de Humanidade da UNESCO e tornou-se o 31º sítio de património mundial de China.

In. New York Times 11.02.2011 - Macau, misturas em um canto da China, sínteses: " Macau é misrura de línguas, alimentos e costumes de lugares diferentes. A chef de cozinha de 95 anos de idade, cuja ancestralidade é traçada de Goa, Malaca e outros postos do antigo Império Português, Senhora de Jesus, como ela prefere ser chamada, cresceu celebrando tanto o Natal quanto o Ano Novo chinês com refeições que dependem de linguiça portuguesa, bok choy e galinha cafreal, um prato de pedigree africano. Ela falava português na escola, cantonês na rua e um crioulo animado conhecido como patuá com "as meninas". Os macaenses adaptam-se às circunstâncias da vida local. São pessoas de raça mista. Mas, atualmente, são superados pelos imigrantes chineses e comerciantes portugueses. Apenas menos de 10 mil macaenses residem em Macau e são uma minoria. Pois, a populção de 500 mil habitantes de Macau é formada por 95% dos chineses. Mas atualmente os macaenses – como são conhecidas as pessoas desta antiga colônia portuguesa de raça mista – estão nadando contra uma maré demográfica que ameaça consumir seu coquetel cultural. Sempre superados em número pelos imigrantes chineses e comerciantes portugueses que lotam esta região densamente povoada do delta do rio Pérola, os macaenses que permaneceram na região depois que Pequim tomou de volta o território em 1999, são decididamente uma minoria. Menos de 10 mil macaenses residem aqui. Por outro lado, a população de 500 mil habitantes de Macau é composta em cerca de 95% por chineses. Provavelmente há mais macaenses a viver no Canadá e na Califórnia do que em Macau. A  Associação dos Macaenses em defesa da sua língua local o patuá, lista pela UNESCO como uma língua em extinsão, ajudou a publicar um dicionário de expressões em patuá e nos últimos 18 anos encenou uma peça de teatro anual que revive o que os locais chamam de "doci papiacam", ou "de fala doce", uma mistura de português arcaico, malaio e cingalês temperada com inglês, holandês e japonês e, mais recentemente, uma grande pitada de cantonês. A língua está entre as últimas das que antes circulavam na constelação dos portos que compunham as regiões de exploração de Portugal na Ásia e África. Ao contrário de colonizadores britânicos que mantiveram uma certa distância de seus súditos em Hong Kong, a apenas uma hora de viagem de Macau, os portugueses frequentemente se casaram com mulheres locais, que depois se converteram ao catolicismo. Alan Baxter, linguista da Universidade de Macau e especialista em crioulos portugueses, disse que as raízes da patuá remontam ao século 16, quando os comerciantes portugueses e seus seguidores faziam negócios com africanos, indianos e malaios e, em seguida, seguiam para outras colônias do império. "Imagine se você fosse a algum lugar novo e não soubesse a língua local e apenas aprendesse algumas palavras úteis para se alimentar", disse ele, explicando sua evolução. As contribuições do cantonês à patuá vieram muito mais tarde, a partir do final do século 19, depois que o muro que divide as regiões portuguesas e chinesas de Macau foram derrubados e os dois grupos começaram a se misturar. No início esta linguagem serviu bem aos macaenses de raça mista, promovendo o seu papel como uma ponte entre os governantes portugueses de Macau e os seus habitantes predominantemente chineses. Mais recentemente, depois que eles começaram a enviar seus filhos às escolas portuguesas, os macaenses se tornaram indispensáveis como gerentes e burocratas. Quando a China assumiu a administração da região depois de mais de 400 anos de domínio português, os macaenses haviam dominado o serviço civil do território. Embora a maioria dos visitantes de hoje seja rapidamente sugada para os cassinos de Macau – entre eles o The Venetian, um dos maiores do mundo – aqueles que vagueiam pelas ruas de calçada estreitas da cidade percebem a coexistência do Oriente e do Ocidente. Templos budistas impregnados de incenso, igrejas barrocas, padarias e farmácias portuguesas e vendedores de barbatana de tubarão vivem lado a lado sem reclamações. Essa mesma mistura influência a vida dos macaenses, muitos dos quais são católicos, mas dão a seus filhos pequenos envelopes vermelhos de dinheiro no Ano Novo. No Festival de Outono, outro feriado chinês, eles vão às ruas com lanternas em forma de coelho."Muitos de nós fomos educados na Europa, mas nenhum macaense ousaria mudar para uma casa nova sem consultar um especialista em feng shui", disse Carlos Marreiros, arquiteto que desenhou o Pavilhão de Macau na Expo Shanghai 2010. "Eu sou cristão, mas também acredito que Deus é um grande oceano e todos os rios de religiões seguem para ele”. Nos anos que antecederam a transferência para a China, milhares de macaenses apreensivos partiram para Portugal. Mas, ao longo da última década, enquanto Pequim se manteve fiel à promessa de dar a Macau 50 anos de autonomia relativa, a emigração tem abrandado e um número pequeno, mas constante, de pessoas retornou. Uma atração irresistível tem sido o crescimento econômico, estimulado principalmente pelo jogo e pela construção, que no ano passado ajudou a impulsionar um crescimento de 20% na economia. Abastecido por jogadores do continente, as receitas do jogo de Macau são quatro vezes maiores que as de Las Vegas. O impacto sobre a população local tem sido irregular. Uma lei que proíbe não-residentes de trabalhar como croupiers e comerciantes ajudou a proporcionar empregos bem remunerados, mas, inesperadamente, deixou as escolas sem professores. A atração também tem sido irresistível para os jovens, que estão cada vez mais abandonandos a escola ou a faculdade para ir direto para os cassinos. A prosperidade trouxe outras desvantagens também: a especulação imobiliária desenfreada tirou população local do mercado de habitação. A sonolenta Macau que muitos adoravam está cada vez mais frenética e parecida com Hong Kong. "Tudo está acontecendo muito rápido: a construção é rápida, o negócio é rápido e todos estão mais estressados", disse José Sales Marques, 55 anos, o último prefeito português do enclave, que agora trabalha para promover melhores relações entre Macau e a Europa. "Prosperidade é algo maravilhoso, mas tudo que o dinheiro não pode comprar é uma cultura e uma identidade". Filomeno Jorge está determinado a manter viva uma vertente dessa identidade. Toda quarta-feira, ele toca com os sete outros membros de sua banda, a Tuna Macaense, um repertório diversificado que inclui fados portugueses, baladas cantonesas e canções pop filipinas. O pilar do grupo, no entanto, é a patuá, com algumas letras datando de 1935, quando a banda foi fundada por José dos Santos Ferreira, poeta e letrista creditado por trazer legitimidade cultural para o dialeto macaense. A certa altura, a Tuna Macaense teve três dezenas de membros e a banda ficou conhecida por fazer visitas sem aviso prévio a casamentos e festas de aniversário. "Nós andávamos a pé pelas ruas de Macau, porque ela é tão pequena", disse Jorge, 54 anos, gerente de segurança na MGM Macau, que entrou na banda há 25 anos. "Nós não podemos fazer isso agora, porque há muito tráfego".Embora a Tuna Macaense faça muitos shows frequentemente, Jorge está cada vez mais preocupado em encontrar sangue novo para a banda, uma busca que até agora não teve êxito. "Todos nós da banda temos mais de 50 anos", disse ele. "Depois que morrermos, a nossa música vai morrer, e eu não posso deixar isso acontecer".*Por Andrew Jacobs

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