ler, comentar e refletir

 

In. “ Angola um gigante com pés de barro e outras reflexões sobre a África e o mundo";” Carlos Pacheco; Lisboa, Nova Vega,2011, 2ªedição – Após a leitura deste livro retive a seguinte informação:

 

O PERÍODO PRÉ-INDEPENDÊNCIA:

Além da Secretaria de Negócios de Marinha e Ultramar, em Lisboa, governadores e outros delegados e agentes do governo colonial, comandantes dos navios, grupos económicos europeus, negociantes particulares, degradados, também negreiros indígenas, armadores e comerciantes abastados da classe nativa do litoral, negros, brancos e mulatos, incluindo sobas, tiraram partido do sistema de escravatura, da Costa dos Escravos, desde Luanda ao Daomé, passando pelo Cabo de Boa Esperança e subindo até Zanzibar. Estes negreiros formavam desde o séc. XVII uma elite local nascida na faixa litoral ou na sua interioridade, que impunha os seus interesses aos governadores, capitães-generais, empregados públicos seus patrícios, caso estes recusassem ser seus cúmplices. Apesar disso, no absolutismo os capitães-generais, desembargadores, ouvidores, juízes e outros ministros tinham uma certa preocupação com o interesse público, no entanto, à partir do liberalismo, 1820,  a impunidade piorou, os governadores entraram no jogo dos negociantes locais, recebendo ofertas e permitindo abusos e vale-tudo, situação que piorou ainda mais com o setembrismo e cartismo, com os republicanos os atropelos continuaram, pois a Metrópole não tinha controlo nas chefias. No ano de 1915  as irregularidades e as violências em Angola alcançaram o apogeu, compeliam os sobas a fornecer  mão-de-obra para agricultura e para trabalhos nas estradas e exigiam carregadores para o comercio, transporte de funcionários e cargas do Estado, para executar essas tarefas serviam-se dos cipaios e obrigavam o povo ao pagamento do imposto de cubata. Este ambiente provocou as revoltas, as quais, no entanto, pensa-se que surgiram pela iniciativa das ambições geoestratégicas alemãs no continente africano, sendo a revolta inicial  em Cassuba no Kuanka Sul, depois em Hobta, Selas, Amboim, etc. As revoltas consistiam-se em destruir algumas feitorias e em invadir as casas dos comerciantes. Com a ditadura de 28.05.1928 a situação continuou e desembocou no banho de sangue de 15.03.1961.

Em consequência destes abusos, surgiu com o apoio do PCP, em 1957, o movimento anticolonialista, MAC, cuja actividade se restringia a um núcleo de africanos que viviam e estudavam em Portugal, França e Alemanha. Na capital francesa a MAC era constituída de Mário Pinto de Andrade, Amílcar Cabral, Eduardo Macedo dos Santos e Marcelino dos Santos. Foi através do PCP que na década de 1950 se surgiram vários organismos políticos portugueses e africanos. A PIDE cedo se infiltrou no meio dessas organizações e conseguiu criar tumultos nas assembleias. Em seguimento deste movimento nasce em Tunes, com a conferência dos povos africanos,em finais de Janeiro de 1960, a frente revolucionária africana para a independência das colónias portuguesas, FRAIN, sendo seus representantes um minúsculo grupo de nacionalistas angolanos, cabo verdianos, moçambicanos e são tomenses, que  à partir de Abril de 1960 fixam-se na Guiné-Conakri. Viriato de Cruz exilado na Alemanha Democrática de 1958 a 1960, criou em Tunes, após a conferência, o MPLA, daqui a sua sede passou a Guiné-Conakri e depois à Leopoldville e foi ele que   elaborou o estatuto orgânico e a bandeira do MPLA e ao discursar na Câmara dos Comuns em Londres projetou o partido para o exterior. Logo de início procurou apoio político,  logístico e financeiro da China e os contactos com a Embaixada da China em Conakri foram subindo de grau e qualidade. Viriato mais Eduardo dos Santos e outros dirigentes chegaram a receber treino militar em Beijing, China.  Neto chegou em meados de 1962 à Leopoldville, fugido de Portugal, e tornou-se inimigo do Viriato por este ter ajudado a UNITA a armar-se na guerrilha e por Viriato ser de tendência pró-chinesa, em oposição  a influencia do Moscovo junto dos movimentos de libertação africanos através do Secretariado afro-asiatico de Shangai. O MPLA dividiu-se assim em tendência pró-chinesa e em tendência pró-moscovita do Neto que passou a liderar o MPLA em 1964. Devido as rivalidades em 1964 Costa Sozinho de Fonseca membro do Conselho operacional provisório foi acusado de sedição, encarcerado e espancado em Dolisie por Daniel Chipenda e condenado a morte por Lúcio Lara, mas escapou-se no  dia 7 de Junho. Segundo ele os militantes não gozavam direito à critica, como era o caso do MPLA dirigido por Mário de Andrade, Viriato de Cruz. Quem discordasse era ameaçado de palmatória, chicote ou cadeia. Na 4ª região a brutalidade contra companheiros e a população civil matou dezenas de camponeses e provocou violação de mulheres de varias aldeias. Viriato  em 1966 devido à sua destituição, refugiou-se na China, período em que o relacionamento entre  a União Soviética e a República Popular da China se agravou, provocando crise em todos os partidos marxistas-leninistas e no movimento comunista internacional.  Em 1973 o MPLA  encontrava-se em crise  com deserções desde 1967, falta de pessoal e de logística,  e a maioria dos seus grupos armados encontravam-se fora de Angola, as populações das zonas libertadas no interior de Angola era uma burla, as populações e as famílias dos guerrilheiros viviam com fome e miséria, as sublevações ocorriam a um ritmo crescente, havia atropelos, as matanças indiscriminadas sobretudo nas aldeias de Moxico, as populações pelo facto de querem fugir eram castigadas,  as prisões e fuzilamentos atingiam os melhores oficiais de guerrilha no leste, Chipenda escapou.

Quando surgiram os motins de 4 e 10 Fevereiro 1961 em Luanda o MPLA  dirigido por Viriato da Cruz encontrava-se na Guiné - Conakri, sem implantação em Angola. Quem provocou os motins foi a UPA, União dos Povos Angolanos, sob a liderança do cónego Manuel Joaquim Mendes de Neves, 1890-1966, mestiço, missionário secular de arquidiocese de Luanda. Ele sentia-se revoltado com as autoridades pelo roubo das terras em Dembos, Amboim, etc., desde a 2ª metade do séc. XIX,  e por estas não serem capazes de acabar com a injustiça favorecendo os metropolitanos em relação aos nativos em não colocação destes nos serviços públicos. Ele sendo desde 1945 vogal efetivo do Conselho do Governo da Colónia alertou os altos dignatários da Metrópole a estes atropelos dos direitos dos nativos. O deputado Henrique Galvão no decurso da sua visita de inspecção a Angola chocou-se com o que viu em 1949 e na Assembleia Nacional em Lisboa denunciou a miséria das populações e a má administração da colónia. O cónego na sua meninice presenciou em Golungo Alto casos de espancamento, angariação de mão-de-obra e trabalho forçado,  violência na arrecadação dos impostos da cubata, as rusgas periódicas a sanzalas donde se arrancavam os aldeões das suas lavras particulares e os vendiam para as grandes roças de café e algodão, bem como para as companhias mineiras e para as companhias de construção civil, onde os forçavam a trabalhar nas condições mais desumanas. Em 1959 no Bungo, em Luanda prenderam 300 pessoas praticantes da doutrina de Simão Toco, acusados de desobediência à autoridade administrativa e foram mandados para o Negage com residência fixa, donde não podiam sair , nem podiam contactar a sociedade local, os tocoístas foram perseguidos. O prelado concluiu que esgotara a paciência para conciliação e organizou a revolta.

 

PERÍODO PÓS-INDEPENDÊNCIA, 1975.11.11

Após a independência com a nova ordem revolucionária foram extintas as estruturas administrativas locais,  juntas de freguesia, e foram instituídas as Comissões Populares de Bairro,  compostas por  indivíduos analfabetos e irresponsáveis, as unidades de produção económica confiaram a direcção a comissões administrativas formadas por analfabetos, o sistema agrário foi confiado a especialistas da Bulgária e importaram milhares de máquinas da União Soviética, as quais se viraram a sucata e a reforma agrária se tornou um fracasso, os camponeses foram espoliados e saqueados das suas terras, a produção das fazendas, Dande, Bom Jesus no Bongo,Cassquel e Dambe-Grande, de bons indicadores, caiu a zero e passaram a importar de Cuba o açúcar, fábricas e outros bens dos colonos foram expropriados, e a colectividade perdendo direitos concederam-lhes um cabaz de compras mensal, o povo formava filas para obter um pedaço de pão enquanto os dirigentes políticos, ministros e comissários recebiam nas suas casas semanalmente provisões de carne, peixe, ovos, frutas importadas, verdura e vinho de mesa das melhores marcas, uísque e bebidas licorosas,  a destruição do sistema educativo destruiu a rede de ensino público, as escolas comerciais e as industriais, a universidade e as suas unidades que funcionavam em Luanda, Huambo e Lubango, destacando-se a Faculdade de Medicina e Ciências, entrou em anarquia, e Neto tornou-se o Reitor da Universidade e batizou-a com o seu próprio nome, a maior parte dos arquivos pelo país fora desapareceram, roubados ou queimados. Toda a estrutura administrativa, educativa, cultural e económica, recebida do governo português foi assim destruída e os comissários políticos roubaram os bens públicos. Os novos governantes criaram o caos de cima para baixo e inundaram o Estado com os seus espiões da polícia secreta com a missão de fiscalizar a implementação da nova ordem revolucionária. Por sua vez, a tropa  de MPLA em 1975 invadiu diversos templos,  a Missão de Muxima (Quissam), santuário afamado desde o séc. XVIII, de devoção popular,  onde até acorriam peregrinos do Congo-Kissanga, esta igreja alem de alfaias e imagens de valor incalculável tinha biblioteca e um precioso arquivo documental, que foi reduzido a cinzas e os objetos sacros pilhados, as estruturas da igreja católica em toda a arquidiocese, dioceses e paroquias foram atacadas, os padres sofreram ameaças de prisão, espancamentos e raptos, a Rádio Eclésia e o jornal O Apostolado foram silenciados em 1978, as outras confissões religiosas também sofreram o mesmo drama, as Testemunhas de Jeová, sendo objetores de consciência e recusando-se alistar nas fileiras militares, foram perseguidas, em 1977 a penitenciaria de São Paulo, Luanda, tinha uma centena e meio destas pessoas de objetores de consciência, submetidas as  mais barbaras condições de cárcere e mortos, apenas a Igreja Metodista se salvou de perseguição, pois o Neto tinha formação protestante e estas igrejas  protestantes dos Estados Unidos tinham auxiliado o  MPLA. Mataram todas as manifestações de pensamento, liberdade intelectual,  imprensa e todos os progressos materiais gerados pelo processo colonial, só queriam demolir a ordem existente, não tinham a menor percepção dos problemas do país e da sua complexa estrutura social e económica. Os jornais foram encerrados, excepto o Jornal de Angola que se transformou em órgão de propaganda do MPLA. Ninguém podia deslocar-se duma província para a outra ou duma cidade para a outra sem ser munido duma guia de marcha. No 2º semestre de 1976 um corpo expedicionário cubano e tropas angolanas devastaram povoações inteiras no Huambo, Moxico e Bié e sacrificaram cerca de 150 000 pessoas na chamada operação Tigre, aldeias inteiras desapareceram passadas a ferro e fogo pelos cubanos como mercenários dos interesses pan-africanos da União Soviética, ocasionando o saque e o assassinato coletivo, ali experimentaram as 1ªas armas bioquímicas e o napalm contra imensas aldeias, às mais remotas aldeias foram arrasadas pelos castristas e os generais de Castro apoderaram-se das minas de diamantes, marfim e dos elefantes desmembrados.  O respeito pelos direitos e liberdades fundamentais de indivíduos do período colonial com a independência nacional sofreu retrocesso, as pessoas perderam a capacidade de pensar e em sua substituição introduziram a cultura totalitária e de violência sobre  cidadãos. Um dos maiores campos de concentração foi o de Kalunda, no Moxico, circundado por uma alta vedação de arme farpado, por guaritas e holofotes, onde as matanças ocorriam diariamente às dezenas, abatiam-se as vitimas a tiro ou enterravam-nas vivas dentro de valas abertas pelos próprios, calcula-se terem perdido a vida mais de 15 000 pessoas, entre civis e militares, todos do MPLA. De Maio a Dezembro de 1977 a fúria assassina de agentes de Estado não poupou nenhuma província, distrito ou comuna, em 1978 centenas de pessoas foram arrancadas dos porões da DISA (Direcção de informação e segurança de Angola) e levadas para destino incerto, também em 1979 mais mortos nas circunscrições penitenciarias, campos de trabalho e campos de concentração, onde sujeitavam os presos às maiores coacções físicas  e mentais.  Na madrugada de 23.03.78 levaram da penitenciaria de São Paulo, Luanda, um grupo de reféns e foram metralhados num  descampado e os seus corpos despedaçados, antes de os matar, obrigaram-nos a cavar as próprias valas. Fazia parte deste grupo Aldemar Valles, irmão de Sita Valles. Milhares de indivíduos foram mantidos extra-judicialmente em cárcere privado por espaço de 3 anos, até  estudantes e oficiais militares a cumprir cursos na Roménia, na Bulgária e na União Soviética foram recambiados de volta ao pais e presos nas penitenciarias, muitos foram arrancados de cama noite adentro e espancados selvaticamente diante das mulheres e dos filhos e até mortos, outros foram trabalhar e não voltaram para casa, pois foram sequestrados, outros foram transferidos clandestinamente duma prisão para outra, outros perderam a vida brutalizados pelos seus carcereiros que os mataram a sangue-frio, outros viram as suas casas ocupadas e saqueadas, outros apavorados puseram-se a salvo e esconderam-se e a policia prendeu as companheiras e as torturou. Ao negarem o genocídio de 1976-79 os dirigentes compactuaram-se com  a irresponsabilidade pelo silencio, negaram as reparações às vitimas, proibiram o direito à verdade e desprezaram a reconciliação, a história não difere da natureza, tudo  se conserva e repercute tarde ou cedo. Entre 1976-1979 prenderam, sequestraram, torturaram e exterminaram de forma sistemática e generalizada cidadãos nacionais  e estrangeiros supostamente considerados adversos ao regime de A.Neto, uma parte dos desaparecidos morreu devido as torturas sofridas em centros de detenção, outros foram passados pelas armas e os seus corpos jogados em fossas clandestinas, cremaram os despojos ou lançaram-nos ao mar e mais de 1000 desaparecidos se acham sepultados no fundo oceânico, além desses prenderam e assassinaram membros da UNITA e de FNLA e até pessoas sem partido. O passado tem o peso extraordinário no inconsciente colectivo e por isso se deveria fazer investigação sobre as pessoas desaparecidas durante a ditadura militar e depois de localizadas as covas, cadáveres e as suas ossadas, estas deveriam ser removidas para um local condigno e formada uma tumba comum com um memorial a lembrar a tragédia e para evitar tragédias idênticas no futuro. Igualmente após 30 anos depois do desaparecimento e extermínio de dezenas de milhares de cidadãos angolanos levados a cabo por grupos civis e militares a soldo do Estado  devia haver o direito a justiça e a reconciliação.

A guerra civil custou centenas de milhares de mortos e milhões de deslocados e empobreceu de modo galopante a população e arruinou o sector produtivo, empobreceu a sociedade civil, enquanto os  autores do conflito armado arrecadavam benefícios incalculáveis a custa do petróleo e dos diamantes. Em troca do apoio politico, diplomático e financeiro o regime de Luanda garantiu o abastecimento do petróleo aos centros industriais do capitalismo internacional.

Apesar das vítimas da sua governação ditatorial, a ideia que foi veiculada ao povo é de que o Neto é um humanista, um chefe carismático dotado de virtudes excepcionais, um herói, um estadista.  Angola do Neto é uma Angola proletarizada, onde os trabalhadores se dividiam em  3 grupos sócio-económicos: os funcionários públicos, os operários e os camponeses, todos escravos do poder estatal, nesta Angola não havia lugar aos moderados e a classe média. Todos tinham que se juntar ao MPLA e os que ficassem fora do partido eram os inimigos do povo, contra-revolucionários, o pais todo tinha de varrer as ruas, cortar cana-de-açúcar na fazenda, descarregar navios e cumprir os chamados sábados vermelhos, tarefas que os dirigentes proclamavam como essenciais a revolução, para combater o individualismo e a indisciplina,  a massa de população assim tratada e reeducada já não tinha a alma e a capacidade de pensar, nem foi poupada a população europeia.

Neto era detentor de acções na Gulf Oil Corporation, companhia petrolífera norte americana e, em 1975 com Mobutu ambos eram os principais accionistas da Cabinda Gulf Oil com escritórios em Lisboa. por isso há a hipótese de a Gulf ter financiado a atividade bélica do MPLA e assim apoiado o plano de descolonização do governo português pós 25.04.1974, contemplando o MPLA como legítimo representante do povo angolano.  

Hoje Angola está dominada pelas elites do MPLA e é um dos países mais corruptos do mundo com uma liderança autoritária, os investimentos em atividades produtivas e sociais são insignificantes, sobretudo no saneamento básico e na saúde, a taxa de mortalidade infantil é três vezes maior do que a registada em países subdesenvolvidos,  a iniquidade social é aberrante,  em Luanda 4 milhões de pessoas vivem em condições péssimas e as doenças crescem, o interior rural é uma extensa paisagem abandonada, as cidades sobrelotadas, o banditismo e a anarquia criminosas crescem, as reservas do banco central são escassas e o país não tem condições de assegurar compromissos internacionais em tempos de crise. Há  corrupção, fraude, favorecimento de amigos e adeptos do mesmo partido politico em todas as esferas da administração publica e  os negócios privados confundem-se com os negócios do Estado.

Muitos angolanos por falta de resposta do governo aos seus anseios expatriaram-se voluntariamente deixando para trás as suas casas, os parentes, amigos, à procura de melhores oportunidades de vida noutros países, em terras alheias, no entanto caso queiram regressar deparam-se com a indiferença, desconfiança e rejeição.

Angola com uma população avaliada em 17,6 milhões de pessoas, é um país exportador de produtos de combustíveis, sem política séria de desenvolvimento nacional e de colmatar as desigualdades sociais, uma boa parte dos recursos perdem-se na política de corrupção envolvendo altos funcionários do aparelho do Estado, em promiscuidade entre o dever publico e os interesses privados, segundo o índice de percepção da corrupção de 2009 Angola é um dos países mais corruptos do planeta com a posição 162 num total de 180 Estados, ao lado do Congo Brazaville, Republica Democrática do Congo, Guiné-Bissau, Venezuela, etc., ocupa a categoria do país mais atrasado do planeta em termos de desenvolvimento humano, mais de 70% da população vive abaixo da linha de pobreza com $2 por dia, apesar de um PIB real de 1483 dólares americanos por habitante.

 As receitas de exploração pagas pelas companhias petrolíferas e pelos negócios de alta finança do governo de Angola, em vez de se reverterem a favor do bem-estar social e económico do povo engordam o  aparelho do Estado.

Desde 11.11.75, após a independência  tudo se agravou na relação das instituições do Estado com a comunidade e todas as estruturas estão dependentes da vontade pessoal e ilimitada do Presidente da República. 

Nas forças armadas com o negócio das armas uma parte dos generais enriqueceu-se, beneficiaram-se da distribuição das melhores propriedades fundiárias no Kuanka-Sul, na Huila e noutras regiões do país, facto que causou o mal-estar social com os sobas e com as populações locais com o esbulho das suas terras.

Os nacionalismos modernos, a independência, prometiam liberdade e uma vida melhor ao povo, mas tornaram-se agentes de corrupção, de privilégios e bens de comunidade  só para alguns, fomentaram assim a pobreza e reduziram os Estados a uma oligarquia subserviente ao governo do partido único e aos interesses estrangeiros.  As chefias de FRELIMO, MPLA, PAIGC e MLSTP, sem escrúpulos e ávidos do poder calaram a oposição com a prisão e assassinatos e transformaram Angola, Moçambique e Guiné-Bissau num campo de batalha entre partidos com sangue, fogo, devastação e cadáveres. Os atuais detentores do poder trazem os seus povos ainda encarcerados, votados a morte, penúria, servidão e neocolonialismo, muitos deles tetranetos dos antigos negreiros, deviam pedir perdão ao seu povo. A agravar esta situação as próprias Nações Unidas em Angola durante a guerra civil com os seus programas de paz não contribuíram para a cessação das hostilidades porque defendiam os interesses das principais potências, centros nevrálgicos do poder mundial de modo a acautelar as riquezas económicas vitais, sendo o petróleo o bem mais cobiçado.

Segundo a ideologia do MPLA a pátria Angola é uma realidade baseada na raça negra e pertença exclusiva do povo negro, pelo que só a estes compete construir o futuro do país e formar a sua cultura e identidade nacional. É a primazia dos nativos de cor negra sobre os indivíduos de pele clara no aparelho do Estado e as funções de Presidente de República e do 1º Ministro são exclusivas dos verdadeiros angolanos do grupo étnico dominante, enquanto os mulatos incorporados no Estado devem contentar-se com direitos subalternos. Esta ideologia ao basear-se na etnia, esqueceu-se que no passado de muitas famílias de Luanda, Benguela e outras, hoje retintamente negras, se existem portugueses, ingleses, genoveses, escoceses, napolitanos, alemães, holandeses e até húngaros.

A pátria foi criada com muitas dores ao povo e com o seu sangue por causa dos erros dos políticos e este mesmo povo hoje se encontra mais pobre que nunca.  

 Apesar de se ter conseguido a paz militar em 2002 ainda hoje a justiça social é um sonho adiado porque vive-se de demagogia e do desperdício dos recursos públicos sem respeitar o desenvolvimento económico sustentável. Graças a esta política, 68% dos angolanos sobrevivem com menos de $2 por dia e o seu numero aumenta na razão direta e proporcional à exibição escandolosa da riqueza por parte de cleptocracia do Poder que deprada as riquezas do pais em beneficio próprio e dos cúmplices do exterior ligados à exploração do petróleo, gás e diamantes, construção urbana, produção de energia eléctrica e cimento a que se juntam as alianças na área das finanças cujos parceiros são sobretudo bancos portugueses.

Em relação ao conflito de Cabinda a FLEX-FAC deveria legitimar-se e transformar-se num partido político nacional, nunca regional, uma vez que a constituição angolana não o permite, de modo a disputar um espaço na Assembleia da República e concorrer às eleições autárquicas e se ganhar terá o privilégio de administrar Cabinda. Se for decidido pela autonomia será um modelo semelhante ao da Madeira e dos Açores garantindo ao Estado controlar os atos do poder regional e a gestão do dinheiro do petróleo e assegurar a presença do exercito e da polícia, uma autonomia de influência ou ainda pode ser uma só república e dois Estados, assim só resta a Luanda empreender uma revolução política e instaurar pactos sociais justos que devolvam a dignidade aos cabindas ou a qualquer outro povo do espaço angolano, de modo a evitar em maior ou menor grau a violência contínua.

AS IDEOLOGIAS DE ESQUERDA NO MUNDO E AS SUAS CONSEQUÊCIAS

As ideologias da esquerda no mundo no decurso do último meio século apresentaram-se como representantes da liberdade, do progresso e de emancipação dos povos subdesenvolvidos, no entanto, vendo bem o processo histórico na  América Latina, em Africa, e na  Asia, nada disso se concretizou. Esta revolução Terceiro Mundista iniciada a partir dos anos 60 ficou marcada pelo sectarismo e demagogia, o seu balanço final é fraco. Apenas conseguiu teoricamente a descolonização dos povos, mas na prática a sua história é um rosário de distúrbios e caos, economia destruída, guerras civis, genocídios e pobreza. Angola não teve melhor destino e com a sua estatização ao som da internacional e da cor vermelha entrou em declínio. O próprio Nikita Krutchef sobre o socialismo na União Soviética dizia: “…as portas do seu país continuavam fechadas e trancadas, que espécie de socialismo é este? Que espécie de merda é esta que se teima manter o mesmo povo agrilhoado? Que espécie de ordem social?” Na URSS imperial desde a década de 1930 com a implementação de comunismo os bolchevistas prometeram o paraíso socialista e aceitaram a ideia de que aquele terror representava a forma mais avançada da democracia. A outra opção era o socialismo da Revolução Cultural de Mao Zedong da China Popular, a qual também com a implementação da sua doutrina deixou milhares de mortos, saques e humilhações. Estas esquerdas ainda hoje não são capazes de se alinharem com a democratização dos seus povos.

                                                                                                                

OS INTERESSES INTERNACIONAIS

Os centros do poder mundial apenas se preocupam com os seus interesses geoestratégicos e não se importam com a liberdade individual e com o progresso económico do país. Portugal escuda-se nos afectos e na língua comum, mas descarta das suas preocupações o respeito pelos direitos humanos do povo angolano. É capitalismo selvagem, é a Realpolitik, é a sacralização mercantilista, apenas lhes interessam os benefícios materiais, legitimando assim indirectamente a pobreza e o caos em Angola.

China investe gigantescos recursos financeiros em Angola, na reabilitação de infra-estruturas, vias de comunicações, sector de saúde, produção de hidrocarbonetos, programa industrial, novas instalações militares, através das suas empresas. É o 2º maior cliente depois dos EUA e cada dia que passa a população chinesa aumenta e estima-se que dentro de anos será de 4 milhões. A maioria dos chineses fixam-se no campo. Os angolanos tem muito que aprender com os chineses com as suas regras de disciplina e rigor em contraste com os cubanos. Os chineses vivem isolados e não convivem com os angolanos, pelo que estes receiam  o poder geopolítico chinês, sobretudo tendo em conta a memória da má influência da União Soviética e de Cuba, que causou uma guerra civil em Angola. A China olha também para a Republica Democrática do Congo onde se localizam 80% de recursos mundiais de minas utilizadas na industria de telefones celulares, componentes electrónicos, centrais nucleares e espaciais, fabrico de mísseis balísticos e fibra óptica, reservas controladas pelas principais corporações transnacionais, com os EUA à cabeça. Os Estados Unidos de América olham a Angola, sendo esta um importante produtor de petróleo, sob o ponto de vista de geografia militar e industrial

A OPERAÇÃO DULCINEIA DE HENRIQUE GALVÃO

O sequestro do navio Santa Maria em 1961 por um grupo de militantes do DRIL, directório revolucionário ibérico de libertação, foi designada de  operação Dulcineia. Era formado de 120 homens espanhóis e portugueses e a captura do barco  estava prevista para Setembro de 1960, mas a maior parte desertou-se e o projecto foi adiado três vezes. O seu objectivo inicial era capturar 5 navios aparelhados com armas e centenas de homens em S. Tomé, onde os rebeldes aprisionariam as autoridades a as trocariam por armas e dinheiro, mas devido as divergências entre os espanhóis e portugueses, o grupo decidiu ir a Cuba a fim de ali obter guerrilheiros e espingardas para levarem os revolucionários ao interior da Península Ibérica ou atracarem-se em Angola e aqui procederiam a uma revolta armada, entretanto esta ideia de aportarem-se em Cuba foi descoberta pelos serviços secretos americanos e a sua Marinha impediu o barco de aportar Havana, nesta altura o grupo apenas era constituído por 24 homens, sendo apenas 14 armados.  

 

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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