Missionação - É a actividade dos que se punham ao serviço de Deus, inseridos em ordens religiosas, por exemplo as Ordens dos Franciscanos, Dominicanos, Mendicantes, Pregadores, Jesuítas e outros que corriam o mundo difundindo a fé em Cristo para salvar as almas, em obediência ao pedido de Cristo aos apóstolos, após a sua ressurreição: "Ide e ensinai a todas as nações" (Mateus, 28, 20). A missionação partiu da Judeia pelo Mediterrâneo até à Roma, que de pagã se converteu depois ao cristianismo. Com a queda do império romano, no século V, os missionários pregaram o envangelho aos povos pagãos germânicos, do leste e do norte europeu, e aos povos das Ilhas Britânicas. Monges gauleses, italianos e irlandeses andaram pela Europa, tendo alguns sofrido o martírio. Os Mosteiros beneditinos dedicaram-se a cristianização e traduziram as liturgias em línguas germânicas e eslavas. O Papa Gregório I foi o garnde impulsionador de evangelização dos povos pagãos na Europa.
Durante o perigo árabe e normando no século VIII, a missionação continuou e surgiram as cruzadas a partir de 1095, e, no século XIII a Ordem de Cister, fundada por S. Bernardo, e as Ordens militares, tornam-se motores de missionação, com a actividade dos franciscanos e dominicanos, que se lançaram pelo mundo islâmico da Ásia, China e Mongólia. Os franciscanos aprenderam as línguas, usos e costumes dos povos a evangelizar para conseguirem ser percebidos pelos mesmos. Escolas de árabe e hebraico surgem no sul da Europa, como a de Ramon Lull (franciscano) em Espanha, formando missionários para o norte de África e outras regiões árabes, numa época em que o sonho de conquista dos Lugares Santos de Israel se mantinha aceso na Cristandade medieval.
Os reinos de Portugal e de Espanha tinham também uma dimensão religiosa, além da sua função político-administrativa, pois o primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, se submetera ao Papa, declarando seu reino Portugal como reino de S. Pedro. A Bula Romanus Pontifex de 1455 reconheceu a Portugal o monopólio da descoberta e da conquista, confirmada com uma nova bula em 1456 concedendo à Ordem de Cristo a espiritualidade, patronato de todas as terras descobertas e a serem descobertas no futuro. Mas, este monopólio português foi dividido com a Espanha através doTratado de Alcáçovas em 1479, e Portugal ficou com a posse do arquipelago dos Açores e de Madeira a norte das Ilhas Canárias e a sul com o monopólio das descobertas e de patronato. No entanto uma nova divisão foi feita, pelo Tratado de Tordesilhas de 1494 dividindo o mundo em duas partes, passando uma divisão, perpendicular, um meridiano, à 370 léguas ao ocidente das Ilhas de Cabo Verde, ficando as terras orientais a serem descobertas sob jurisdição de Portugal e as terras ocidentais à Castela.
São bulas papais com que a Igraja Católica lhes deu a missão, além das descobertas, de evangelizar e cristianizar os povos em seus respetivos domínios, delegando-lhes os seus poderes, a que se chamou "Padroado". O rei assim tinha que construir igrejas, nomear padres e bispos, e propor a sua aprovação papal. A inquisição também é uma delegação do poder papal aos reis. O Chefe do Estado Português impunha o barrete cardinalício ao Patriarca de Lisboa. Este Padroado ao longo dos tempos foi sofrendo alteração, até que o Concílio Vaticano II em 1962 o suprimiu.
A partir de finais do século XVII Portugal por condicionalismos políticos, internos e externos, não conseguiu cumprir com as suas obrigações de Padroado Português nas terras que se encontravam fora do seu controlo direto e Roma passou a enviar os seus missionários, italianos, espanhóis e franceses, da Congregação da Propaganda Fide, a pregar nesses territórios da índia, indochina e china e noutra regiões do extremo-oriente e nomear diretamente os vigários-apostólicos sem consultar Lisboa. No século XVIII quando Pombal expulsou os jesuitas o padroado ficou ainda mais enfraquecido, situação ainda agravada depois com a reforma liberal do século XIX e depois em 1910, com a instauração da República. Com a Lei de separação do Estado das Igrejas, de 20 de Abril de 1911, o Estado Português renunciou ao exercício e ao direito de apresentação de candidatos a cargos eclesiásticos, na Metrópole.
Com o Estado Novo, a partir de 1926 houve o renascimento católico e em 1940 o governo assinou com a Santa Sé 3 acordos: A Concordata, Acordo Missionário e o Estatuto Missionário. Salazar referiu:"Não se pode por, entre nós, o problema de qualquer incompatibilidade entre a política da Nação e a liberdade de evangelização, pelo contrário, uma faz parte da outra. O governo condiciona a evangelização à formação patriótica do clero".
Na história de Portugal distinguem-se dois tipos de padroados. O "Padroado Real", seja, o conjunto de igrejas e cargos de fundação Real, e "Padroado Português", delegação das funções da Igreja Católica sobre todos os territórios ultramarinos, concedido para sempre a Portugal, por intermédio da Ordem de Cristo, atendendo à situação de primeiro evangelizador dessas paragens.
As caravelas da expansão levavam sempre um missionário católico com a missão de dar assistência aos seus tripulantes durante as longas viagens e envangelizar os povos indígenas dos territórios que fossem conquistados. Com a ocupação territorial eram ali construidos edifícios para a feitoria, fortaleza para a defesa e a igreja para a missionação, e, a par da colonização, iniciava-se a evangelização e o batismo, esperando que as populações cristianizadas adotassem uma nova mentalidade ocidentalizada. Mas, sendo a mudança das mentalidades um processo evolutivo, os novos cristãos tinham tendência em continuar com os seus costumes, como a poligamia, a prática de feitiçaria ou o culto dos antepassados, contrários a moral cristã.
O primeiro contato colonizador dos navegadores portugueses na sua rota do atlântico sul à procura do caminho da Índia, deu-se no Congo, em 1482, onde oc congoleses receberam os portugueses com júbilo e alegria e o seu rei, através do batismo usou o nome de João e mandou queimar os ídolos, demónios, dragões, serpentes, etc., O seu filho Afonso mandou construir a primeira igreja católica em S. Salvador do Congo. Assim o seu povo aderiu ao cristianismo e os grandes da sua corte passaram a vestir à moda portuguesa, com mantos, capas, chapéus e alparcas de veludo. Para a consolidação desta missionação para lá foram também mais missionários, como os capuchinhos em 1622, enviados pelo Papa Gregório XV.
Após o desembarque nas terras do Brasil em 1500, - expedição de Pedro Álvares Cabral, na qual iam 8 frades franciscanos -, frei Henrique de Coimbra, celebrou a primeira missa no Brasil a 26 de Abril. Em 1516, dois frades franciscanos foram mortos pelos Tupinambás tornando-se os primeiros mártires do Brasil. Franciscanos, capuchinhos, beneditinos e jesuítas e ainda missionários protestantes dedicaram-se à tarefa de ensinar a doutrina cristã aos índios brasileiros. Verificando-se que as ordens mendicantes não se encontravam preparadas para uma missionação de contato imediato com os naturais, D. João III mandou em 1549 a Companhia de Jesus ao Brasil, com o primeiro governador Tomé de Sousa, para a evangelização dos indios e combater a influência dos protestantes. Eles defenderam os índios da escravidão dos colonos, ao mesmo tempo os cristianizavam e fizeram a sua aculturação a uma nova vida nas suas missões e aldeamentos. A educação das populações urbanas era outra das vocações da ordem. As atuais vilas e cidades do Brasil, como Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro, tem origem nas missões e aldeamentos dos jesuítas. A catequese fazia parte da rotina diária de crianças e adultos. Havia ainda um conselho rudimentar presidido por um corregedor indígena eleito pela comunidade.
A reforma protestante criou no seio da cristandade uma divisão, dum lado o catolicismo e do outro lado o protestantismo. Neste contexto, surgiu a contra-reforma católica e a Comapnhia de Jesus, uma nova congregação vocacionada especialmente para a missionação. São os jesuítas que afluem em força na Ásia, América do Sul e do Norte. Eles estudam as línguas locais, costumes, crenças, histórias, e, passam a catequizar e ensinar os naturais. Pelas suas viagens e observações quotidianas estudam a geografia, botânica e zoologia. Fundam escolas, hospitais. Servem o povo gratuitamente. Foi esta ação missionária que difundiu a língua portuguesa na África, Ásia e América, tornando-a uma língua franca para os aventureiros, comerciantes de outras nacionalidades em contato com os nativos e com as missões, como referência e de apoio às incursões colonizadoras. Levaram dum continente para o outro técnicas, usos e hábitos de vestir. Levaram a imprensa para Goa, Macau e Japão. Estudaram a utilidade das especiarias e drogas na medicina e divulgaram os conhecimentos. Transplantaram árvores de fruta dum continente para o outro. Os papas criaram em Roma em 1622 a Congregação da Propaganda, como reforço para a missionação e no seguimento das determinações do Concílio de Trenta.
Com a chegada de Vasco de Gama à Índia em 1497 e com a conquista de Goa por Afonso de Albuquerque em 1510, nasceu o Padroado de Goa. A primeira missa foi rezada na Ilha de Angediva em 1500 pelo frei Henrique de Coimbra, juntamente com 7 religiosos franciscanos e ali batizaram 22 habitantes. Nesta altura a Índia quase toda estava ocupada pelos muçulmanos. O único bastião hindú era o reino de Vijayanagar (Bisnaga) no sul da Índia. A chegada dos portugueses foi bem acolhida por este reino e os missionários foram os intermediários, entre as autoridades portuguesas e os hindus. Afonso de Albuquerque, após a conquista de Goa, prometeu ajuda a Krishna Deva Raya nas suas guerras contra os muçulmanos do Decão, principalmente através de fornecimento exclusivo de cavalos de guerra que vinham de Ormuz ao porto de Goa, enquanto os missionários deveriam tentar converter o rei e sondar a possibilidade de uma aliança contra os muçulmanos e ao mesmo tempo informar das movimentações do exército de rajá.
A primeira diocese em Goa foi fundada em 1534 e que ficou com a jurisdição do todo o Estado da Índia que ia de Moçambique ao Extremo Oriente. Inicialmente na Índia conseguiram conversações em massa das classes inferiores, em virtude de os missionários pregarem a igualdade e a fraternidade, em contraste com as diferenças sociais de castas.
Frade jesuíta, S. Francisco Xavier 1506-1552, aos 19 anos estudou latim, grego, retórica, poesia, filosofia, na Universidade de Paris, tendo-se ali licenciado em Letras e Filosofia, em 1530. Foi enviado à Índia como Núncio Apostólico da índia e chegou à Goa em 06.05.1542. Passou a residir no Hospital Real e dedicou-se aos doentes e leprosos do Hospital de São Lázaro e visitar os presos na cadeia, bem como, à pregação e catequese na Igreja do Rosário. Combateu também a corrupção. Para atrair as pessoas subia e descia as ruas e praças com um sino na mão, chamando as crianças e os adultos para a catequese e instrução. Ao fim de 5 meses o Governador Martim Afonso de Sousa, 1542 – 1545, mandou-o para o Cabo Camorim e depois de passar um ano na Costa de Pescaria voltou à Goa em 1544 e em 1545 partiu para Meliapur, onde escreveu o catecismo em tamil. Em 1546 fundou o Colégio de S. Paulo em Goa, para a educação da mocidade, onde sua população escolar chegou a atingir os 3 000 alunos, que depois dedicaram-se a evangelização dos povos, na Índia, Tibete, Himalaia, Nepal, Butão e China. Em 1549 foi ao Japão e em 1552 à Malaca. Ele consciencializou-se da necessidade de o missionário se adaptar aos costumes locais e praticar certos ritos de confucionismo- a querela dos ritos iniciou-se em 1645 e terminou no séc.XVIII, quando o papa Bento XIV, 1740-1758, hostil aos jesuítas condenou e proibiu a pratica dos ritos chineses por bula de 1742 e em 1744 agiu contra os ritos macabros na Índia. Na sua meditação e êxtase, segundo uma lenda, ouviu ele: “Sati Domine” (Chega, senhor, é suficiente). Morreu às portas da China em 1552 com febre alta, aos 46 anos de idade. É símbolo de unidade entre os povos.Encontra-se representado no Padrão das Descobertas em Lisboa. Em 1612 um seu braço foi enviado a Roma. Um seu osso "úmero" está num relíquia de prata em Macau.
"" Plinio Maria Solimeo - O Papa, para atender ao Rei João III de Portugal, estava pedindo-lhe membros de sua recém-fundada Companhia para evangelizar os domínios portugueses de ultramar. Como Francisco Xavier era o único de seus discípulos disponível no momento para acompanhar Simão Rodríguez, teria que ir. No entanto, dos seus primeiros filhos espirituais, Xavier era o predileto, aquele que planejara ter consigo como conselheiro e provável sucessor. Mas Inácio de Loyola havia escolhido como lema de sua milícia Ad Majorem Dei Gloriam (Tudo para a maior glória de Deus). Se bem que tivesse sentimentos muito profundos, não era um sentimental. Chamou logo Francisco. Sempre pronto a obedecer, o futuro Apóstolo das Índias exclamou: “Pues! Heme aqui!” (Estou pronto! Vamos!).
No dia 16 de março de 1540, provido dos títulos de Núncio Papal e Embaixador de Portugal para os países do Oriente, Francisco Xavier despediu-se do seu pai espiritual. Santo Inácio, pondo-lhe as mãos sobre os ombros, percebeu que a batina era muito rala. “Como, meu caro Francisco! Ides cruzar as neves dos Alpes com roupa tão leve?” O discípulo sorriu timidamente. “Depressa, desvestindo sua própria batina, o Fundador da Companhia de Jesus tirou uma veste de flanela que estava usando, e fê-la vestir em Xavier. Era como se, com essa parte de sua vestimenta, desse uma parte de si mesmo ao filho que partia”.(1) “Ide: acendei e inflamai todo o mundo”, foram as últimas palavras do antigo capitão de Pamplona ao ex-mestre do Colégio de Beauvais.
Reformando a “Goa dourada, a Roma do Oriente” - Francisco Xavier tinha 35 anos quando cruzou o oceano para chegar a Goa em 6 de maio de 1542. Essa cidade, capital das possessões portuguesas no Oriente, atraíra toda sorte de soldados de fortuna e aventureiros, os quais, longe de sua pátria, família, parentes e conhecidos, tinham caído numa vida licenciosa que escandalizava não só seus correligionários, mas até os pagãos.
Dom João de Castro, um dos maiores vice-reis das Índias, descreve assim a situação de Goa à sua chegada: “As cobiças e os vícios têm cobrado tamanha posse e autoridade, que nenhuma cousa já se pode fazer por feia e torpe, que dos homens seja estranha”.(2)
Braço de prata com relíquia do Santo - Impelido “pela necessidade de perder a vida temporal para socorrer a espiritual de seu próximo”,(3) São Francisco Xavier atirou-se ao trabalho, começando pelas crianças e doentes. Aos poucos sua fama no confessionário e no púlpito atingiu outras áreas, e gente de todas categorias passou a procurá-lo para purificar sua alma. “Aqui em Goa eu moro no hospital, onde confesso e dou a comunhão para os enfermos. Mesmo assim, é tão grande o número dos que vêm pedir-me para ouvir confissões que, se eu estivesse em dez lugares ao mesmo tempo, não teria falta de penitentes”,(4) escreveu ele a Santo Inácio apenas um mês depois de sua chegada.
Goa, a “dourada” ou a “Roma do Oriente”, era uma cidade cosmopolita e tinha atraído gente de todas as partes do mundo. São Francisco Xavier viu a necessidade de criar uma escola de nível médio para ajudar a evangelização. Menos de um ano depois de sua chegada, tinha já fundado o Colégio da Santa Fé. Sua finalidade, como ele explica, era “para que os nativos destas terras e os de diferentes nações e raças possam ser instruídos na fé. E para que, quando tiverem sido bem instruídos, sejam enviados às suas pátrias, de modo que ganhem fruto com o ensinamento que receberam”.(5)
Os “filhos de São Francisco Xavier” - Sua presença era requisitada também em outras partes: “Num reino longe daqui (Travancore, sudoeste da Índia), Deus moveu muitas pessoas a se fazerem cristãs. De tal modo que, num só mês, batizei mais de dez mil, homens, mulheres e crianças”.(6) Nessa nova área ele foi recebido pelo marajá “com honras, e tratado com gentileza”; o rei deu a ele “permissão para pregar o Evangelho em todo seu reino, e para batizar aqueles de seus súditos que quisessem tornar-se cristãos”.(7)
Como escreveu para os membros da Companhia, em Goa “eu tenho estado ocupado batizando todos os infantes. [...] Os mais velhos deles não me dão paz, pedindo-me sempre para ensinar-lhes novas orações. Eles não me dão tempo para rezar meu breviário nem para comer”.(8)
A história do Cristianismo no Japão inicia-se com a chegada de S. Francisco Xavier e seus companheiros. Depois vieram as perseguições e os martírios.
São Francisco Xavier desceu até o extremo sul da Índia para evangelizar os Paravas, quase todos pescadores de pérolas. “Padre Francisco fala desses Paravas como de uma nobre raça, inteligente, trabalhadora e perseverante, a única tribo na Índia que se tornou inteiramente católica. [...] Eles se orgulham de chamar-se a si próprios ‘os filhos de São Francisco Xavier’”, escreve um Prelado no início do século passado.(9)
Foi nessa Costa da Pescaria que o “Padre Francisco” realizou muitos dos seus mais espetaculares milagres. Foram tantos e tão notáveis, que fica difícil a escolha.
Uma vez os ferozes Badagas cruzaram as montanhas, devastando o Travancore. O marajá, mal preparado para fazer face a esse perigo, apelou a São Francisco Xavier. O apóstolo juntou-se ao improvisado exército, colocando-se na primeira fila. Tão logo sua voz pôde ser ouvida do outro lado, “o Padre Francisco, segurando seu Crucifixo, caminhou para o inimigo [...] e gritou em alta voz: ‘Em nome de Deus, o terrível, eu vos ordeno que pareis’”.(10) Os badagas das filas dianteiras, aterrorizados, pararam e começaram a recuar. A debandada foi total.
“Eu te ordeno, levanta-te dos mortos!”
A cidade de Quilon, entretanto, não se impressionava com esses milagres, e as palavras de fogo do apóstolo não penetravam nos corações endurecidos de seus habitantes. Um dia, quando estava rodeado por uma multidão a que não era capaz de tocar, o Santo ajoelhou-se e pediu fervorosamente a Deus que mudasse o coração e a vontade daquele povo obstinado. Depois de um instante, dirigiu-se ao local onde um jovem havia sido enterrado na véspera. Pediu que o desenterrassem. “Verifiquem todos se ele está mesmo morto”, disse à multidão. Alguns, ao abrirem o caixão, recuaram exclamando: “ele não só está morto, mas cheirando mal”. Xavier então ajoelhou-se e, com potente voz para que todos ouvissem, disse: “Em nome de Deus e em testemunho da fé que eu prego, eu te ordeno: levanta-te dos mortos”. Um tremor sacudiu o cadáver e a vida retornou plenamente a ele. O número das conversões foi grande, e a fama do milagre acompanhou Francisco Xavier através das Índias.(11)
Procissão portando o corpo de São Francisco Xavier, venerado até por não católicos, pelas ruas de Goa em dezembro de 2004
Para formar um clero nativo capaz de trabalhar entre seus irmãos, ele fundou mais quatro seminários: Cranganor, Baçaim, Coghim e Quilon.
Qual era o segredo da eficácia apostólica de São Francisco Xavier? Era uma heróica observância do maior mandamento de Cristo: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo teu entendimento” (Mt 22, 37). “Tenho tão grande confiança em Deus, cujo amor somente me move, que, sem hesitar, com o único bafejo do Espírito Santo, afrontei todas as tempestades do oceano na mais débil barca”.(12)
O segundo apóstolo da Índia recorre ao primeiro - Para saber se deveria avançar mais para o Oriente em sua evangelização, Francisco resolve fazer um recolhimento junto ao túmulo de São Tomé, em Meliapor.
O segundo apóstolo da Índia, em contato com o primeiro, recebeu muitas graças: “Aqui Deus lembrou-se de mim segundo sua costumeira misericórdia; Ele tem consolado infinitamente minha alma, e me fez saber que é sua vontade que eu vá para Málaca, e de lá às outras ilhas da região”.(13)
O resto da história é muito conhecido. Com o mesmo zelo, São Francisco evangelizou não somente Málaca e as Molucas, mas também muitas outras ilhas vizinhas, e chegou até o Japão, do qual foi o primeiro e mais importante apóstolo. Ele morreu só e desconhecido nas costas da China, com os olhos postos em suas misteriosas terras, cuja antiga e rica civilização queria conquistar para Cristo.
No processo de canonização do grande Apóstolo do Oriente, a Santa Sé “reconheceu vinte e quatro ressurreições juridicamente provadas e oitenta e oito milagres admiráveis operados em vida pelo ilustre Santo”.(14) Na bula de canonização são mencionados muitos milagres ocorridos em vida e depois da morte de São Francisco Xavier. Um deles foi que as lamparinas colocadas diante da imagem do Santo, em Colate, ardiam muitas vezes tanto com óleo como com água benta.
O último milagre relacionado a ele foi seu corpo incorrupto por séculos, cujos restos, mumificados e danificados por homens e elementos, podem ainda ser vistos em Goa, coroando um dos mais notáveis exemplos do Evangelho posto em prática. "" In. São Franscisco Xavier, dia 3 de dezembro. « A Riqueza do Rosáriosexta-feira, 3 de Dezembro de 2010.
Estes missionários estudaram as línguas, costumes, crenças e histórias locais, filosofias da Índia e da China, a botânica e a zoologia, os itineráriuos e os locais do comércio e mantiveram os contatos com as feitorias e as fortalezas portuguesas. Espalharam hospitais e escolas gratuitas. Ensinaram ler escrever e contar. Fizeram dicionários e introduziram em Goa a primeira tipografia em 1556, em Macau em 1588 e no Japão em 1591. Imprimiram livros em português e em línguas locais e fizeram intercâmbio científico dos métodos ocidentais e orientais. Introduziram palavras portuguesas e a língua portuguesa tornou-se franca até ao século XVIII, graças aos seus esforços.
A ordem dos Agostinhos – Em 1572 partiu de Lisboa um grupo de 12 frades, dos quais 2 ficaram em Ormuz e 10 seguiram para Goa. Um dos frades agostinhos, D. Frei Aleixo de Menezes tornou-se arcebispo de Goa em 1595. Em 1595 ele e o Vice-Rei, D. Estêvão de Gama, deram início a construção do Convento dos Agostinhos, ficando a obra concluída em 1605, com uma fachada monumental de 46 metros de altura, dominando a cidade de Velha Goa, no alto do Monte Santo, perto da igreja de Nª Srª do Rosário, que fora o local escolhido por Afonso de Albuquerque para colocar sua artilharia na conquista de Goa em 1510. Os frades agostinhos foram os últimos a estabelecer-se em Goa, depois dos franciscanos, dominicanos e jesuistas. Com a mudança da capital para Pangim / Nova Goa no século XVIII, e respectivo abandono de Velha Goa, e com a política anticlerical do liberalismo de extinção das ordens religiosas masculinas e nacionalização dos seus bens, em 1835 o convento passou para a Misericórdia, que, por falta de meios económicos o bandonou em 1841. Por falta de uso e manutenção, em 1842 a abóboda da Igreja desabou, mas, a fachada resistiu ate 1931, data em que ruiu, ficando de pé parcialmente a torre norte, impressionando atualmente o seu visitante. A UNESCO em 1986 declarou todo o complexo arquitectónico religioso Patrimonio da Humanidade e os Serviços de Arquiologia da Índia deram início ao estudo arquitectónico das ruínas, incluindo das lápides tumulares existentes. In. Agua aberta no oceano. Blogspot.com, 16.04.2010, As ruínas dos agostinhos
Na Ilha de Chorão os jesuítas pregavam e ensinavam catequese através dos estudantes nativos em línguas locais e um deles escreveu a primeira gramática de concani em 1563. Mas o Padroado de Goa também teve coisas negativas com o estabelecimento da Inquisição em 1560, cuja atuação intolerante e exagerada causou antipatia dos reinos hindus, agravada ainda com a política de demolição de todos os templos não católicos, apesar de os moradores sensatos reclamarem ao governo de Lisboa a sua discordância. É um exemplo disso, os ”Mártires de Cuncolim”, Goa, em 1583, em que cinco Jesuítas e dois meninos covertidos que os acompanhavam, perderam as suas vidas por se terem envolvido na destruição de um templo hindu desta aldeia. Em 1599 o arcebispo Fr. Aleixo de Menezes convocou o sínodo de Diamper e impôs aos cristãos de S. Tomé o rito latino tridentino a fim de trazê-los dentro da jurisdição do Padroado português, provocando um cisma em 1653, quando uma parte dos cristãos de S. Tomé se juntou à Igreja ortodoxa de Antioquia.
Bento de Góis, natural de Vila Franca de Xira, soldado aos 20 anos foi à Índia em 1583 e na Índia ingressou na Companhia de Jesus em 1584 e depois viajou pela Pérsia, Árábia, Baluchistão, Sri Lanka e em 1588 regressou à Goa. Em 1594 integrou a 3ª expedição dos jesuítas à corte de Grão-Moghol, Akbar, o Grande, em Lahore e conseguiu que Akbar estabelecesse tréguas com os portugueses. Foi um religiosos e explorador português e primeiro europeu a viajar da Índia para a China, através da Ásia Central em 1606. In Moedas comemorativas portuguesas; Irmão Bento de Góis; 20.09.2010
João Paulo da Costa Pereira de Almeida, bracarense, aos 19 anos de idade, chegou a Goa em 1799. Foi ordenado sacerdote em 1784 e mais tarde tornou-se Deão do Cabido da Sé. Com as Novas Conquistas nessa altura, ele fundou numa floresta uma pequena aldeia, designada de Quepém, no sul de Goa. Ali criou arrozais, plantou coqueiros e árvores de fruta, atraiu assim novos residentes, construiu a Igreja de Santa Cruz, um mercado, um hospital e outras facilidades ao serviço daquele povo. Para a sua residência ocasional construiu uma espaçosa casa, hoje, conhecida como Palácio do Deão, que mais tarde serviu de residência ocasional aos vice-reis, hoje, encontra-se alugada a família Rúben Vasco de Gama, servondo-lhes de residência e, ao mesmo tempo, usando-a também para fins turísticos. In agua aberta no oceano. blogspot.com.20.04.2010. postal de Goa (XIII) palácio de Deão.
Mas, a missionação na Ásia, começou logo com a chegada de Vasco de Gama Calicute e outras terras do sul da Índia. Quando em 1658 os portugueses foram expulsos de Malaca pelos holandeses, estes também expulsaram os missionários católicos, e, quem lhes desse abrigo foi ameaçado de pena de morte. A população convertida também foi obrigada a deixar as suas praticas católicas, e, os europeus católicos ficaram impedidos de lá missionarem. O Pe. José Vaz (1751-1811), natural de Goa, Sancoale, etnicamente nativo, foi missionar em 1681 nas terras de Canará, no sul de Goa, e, quando regressou à Goa, ingressou na Congregação "Oratório", fundada em Roma por São Filipe Nery. Esta congregação oratório de Goa foi decisiva na missionação da Ilha de Ceilão, pois, os missionários católicos europeus estavam aí impedidos de entrar. Pe José Vaz, naõ sendo europeu, entrou em 1687 no Ceilão. Já conhecedor da língua tamil e disfarçado de mendigo, contactou a comunidade católica, conseguindo promover também muitas conversões. Verificando a dificuldade devida a presença dos holandeses afastou-se no interior do Ceilão, no reino de Kandy, mas, este o acusou de espião português e foi preso. O rei ao fim de 2 anos libertou-o e o autorizou ali construir uma igreja. Morreu em 1711, quando já havia no Ceilão à volta de 55 mil católicos. Atualmente, o Ceilão, seja, Sri Lanka, tem uma comunidade de 1 500 000 católicos, cerca de 6,75% da sua população e diversas comunidades descendentes de europeus com traços de praticas culturais indo-portuguesas. In agua aberta no oceano. blogspot.com, portal de goa (XXIV), 30.04.2010
No século XX o Padroado de Goa ainda detinha na Índia a obrigatoriedade de nomeação dos bispos de nacionalidade portuguesa para as Sés de Cochim, S. Tomé de Meliapor, Bombaim, Mengalore, Quilon e Trichinipolis. Nesta altura em Goa havia a volta de 700 sacerdotes naturais do Estado da Índia e uma dezena de sacerdotes europeus, e no resto da Índia ao serviço das Missões de Propaganda Fide de Roma uns 200 sacerdotes goeses. Mas o Padroado Português do Oriente à partir de 1950 ficou reduzido apenas aos territórios, de Goa, Damão e Diu, na Índia, devido a incompatibilidade com a política do Governo da União Indiana.
Devido ao trabalho missionário em Goa encontram-se por todo o lado cruzeiros, simples ou decorados, e as igrejas, que os navegadores e mssionários portugueses espalharam pelo oriente, como símbolo da sua fé. Os convertidos faziam as cruzes nos recintos das suas casas, como sinal da sua fé, enquanto as casas hindus tinham a sua divindade. As cruzes também se encontram nas estradas simbolizando algum acontecimento, como homenagear os mortos por desastres ou proteger um local dos maus espíritos.
- Gonçalo da Silveira, famoso missionário português, foi morto a 15 de Março de 1561, em Moçambique. Primeiro mártir da África Austral, foi declarado venerável, mas o processo de beatificação, há muito introduzido, tarda em avançar. Nascido a 23 de Fevereiro de 1521, em Almeirim, Portugal, no seio de uma família nobre, cedo entrou na Companhia de Jesus e já padre partiu em 30 de Março de 1556 como missionário em terrars do Oriente e em Setembro 1556 chegou à Índia. Foi missionário em Goa e, em seguida, superior provincial dos Jesuítas. Em 1559, quando os jesuítas de Goa decidiram iniciar a evangelização em Moçambique, ofereceu-se para esta missão. Chegou à Ilha de Moçambique a 4 de Fevereiro de 1560 com dois colegas. Uma semana depois, rumam a Inhambane, onde chegaram a 4 de Abril. Daqui, continuaram viagem até à região de Mocumbi. Em Tongue, capital do reino de Gamba, foram bem recebidos e bem sucedidos. O rei converteu-se e recebeu o baptismo, juntamente com os seus filhos. Mas, a meta dos missionários jesuítas era alcançar o reino do Monomotapa, no centro de Moçambique, a fim de converterem a sua população. Movido por grande zelo missionário, o padre Gonçalo da Silveira não tardou a partir sozinho para lá, a fim de iniciar a evangelização. Atinge a corte do Monomotapa, depois de ter atravessado Quelimane, Sena e Tete, onde foi bem acolhido. Foi em seguida recebido pelo rei, que lhe perguntou qual era o seu objectivo: “Quer vacas, ouro, mulheres ou terras?", ao que Gonçalo da Silveira respondeu: "Nada preciso dessas coisas, mas de sua alteza". Depois de uma breve catequese, o rei fez-se cristão, tendo sido baptizado numa cerimónia solene. Foi-lhe dado o nome de Sebastião em honra do rei de Portugal. Com ele, joram baptizadas mais 300 pessoas. A facção árabe da corte, incomodada com esta presença cristã, moveu-se junto do imperador, convencendo-o que Gonçalo da Silveira era a ponta de lança de uma futura invasão portuguesa. O imperador autorizou então a sua eliminação física. Alertado para a conspiração que se montava contra a sua vida, gonçalo da Silveira recusa abandonar a corte. Na noite de 15 de Março de 1561, um grupo de homens entrou no lugar onde dormia, agarraram-no e lançaram-lhe uma corda ao pescoço, sufocando-o. Foi depois arrastado para o rio Mosenguese, onde o lançaram. A morte deste santo causou espanto e indignação em toda a Europa e também em Goa. Em Portugal o rei dom Sebastião ficou tão consternado que até ordenou uma expedição punitiva contra o Monomotapa, o que de pouco ou nada valeu. Gonçalo da Silveira é reconhecido pela Igreja como venerável, estando já introduzido há muito tempo o processo da sua beatificação. Na reabertura do Concílio Vaticano II, Sebastião Soares de Resende, primeiro bispo da Beira, renovou, em nome dos bispos de Moçambique, o pedido da glorificação canónica do misisonário mártir. Mais recentemente, o Núncio Apostólico em Moçambique, Peter Zurbriggen, mostrou-se muito interessado em levá-lo aos altares, mas as informações provenientes do secretariado da postulação das causas de jesuítas, na Cúria Geral, em Roma, não foram animadoras."