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CRISTIANISMO - IGREJA PERTO DO CRISTO - Humildade, amor pelo próximo, defender e cuidar dos fracos, dar a vida pelo próximo e não-violência, são exemplos do Cristo e dos seus 12 apóstolos. O exemplo de não-violência verificou-se quando Cristo enxertou a orelha dum dos soldados romanos que procediam à sua detenção, cortada por um dos seus apóstolos, e quando ele próprio se ofereceu ao sacrifício da sua crucificação em defesa do seu ideal de justiça, paz e reino de Deus. O martírio da vida da maioria dos seus apóstolos é outro exemplo de sacrifício  para criar o reino de Deus na terra, de modo a transformar  silenciosamente as nossas mentalidades, tornando-nos pessoas esclarecidas, amantes de paz, verdade, bem estar de cada um de nós e de toda a humanidade, como uma única família.

O imperador romano, Constantino, no século IV, mediante o Édito de Milão, reconheceu oficialmente o cristianismo, em pé de igualdade com o paganismo, e ordenou a imediata restituição dos seus bens confiscados, e empenhou-se na construção das grandes basílicas. Ao mesmo tempo, autorizou  a igreja possuir propriedades, por doações e legados, e oficializou as normas jurídicas e socias da igreja, seja,  proibição de concubinato, bastardia, dificultação do divórcio, magia, idolatria e  cerimónias do culto imperial. O cristianismo espalhou-se pelo império romano, os pagâos foram convertidos e os seus locais de culto transformados em igrejas e capelas, e as festas religiosas em festas católicas.

Mas, no século V, os barbaros que invadiram o império romano, entre Reno e Danúbio, uns eram pagãos e outros cristãos arianos que professavam a doutrina defendida pelo Ário, sacerdote de Alexandria. Segundo ele, Cristo não tinha natureza divina, e, como tal, não era igual ao Pai. Igualmente, um bispo de Constantinopla, Nestório, considerou Cristo apenas um homem, unido à substância divina,  pelas suas virtudes e méritos, e, por isso, negou que a Virgem Maria fosse a Mãe de Deus.

IGREJA AFASTADA DO CRISTO - É o período em que a igreja afasta-se dos exemplos do Cristo e dos seus 12 apóstolos e procura imposição da sua doutrina através de autoridade. A igreja católica considerou hereges  todas as pessoas que praticavam doutrinas contrárias aos seus ensinamentos. Estas questões fizeram que o imperador e os teólogos, doutores ou padres da igreja, começassem a discutir Deus, Cristo,  Espírito Santo,  Virgem Maria e adoração das imagens, como se fosse algo entendível à luz do conhecimento humano limitado à esfera terrena. A igreja  ao mesmo tempo se agarrou ao luxo, fausto e materialismo, imitando a vida dos imperadores romanos.

Com a queda do império romano, a igreja substituiu o poder civil e militar e tornou-se símbolo de autoridade. Um dos mais importantes chefes, Clóvis, do povo pagão, foi convertido ao catolicismo e com ele todo o seu povo. Mas, esta autoridade da igreja enfraqueceu-se devido as discussões teologicas e foi incapaz de preparar os agentes pastorais e manter a ordem social. Os clérigos tornaram-se ignorantes, sobretudo no meio rural e mal preparados para assumir os cargos pastorais, e muitos viviam em concubinato e os crentes, consequentemente, viviam em brutalidade e embriaguez. As regras que impunham a missa dominical, o jejum pascal, etc. não eram observados, comungava-se pouco e viviam-se em supertições. Esta incapacidade da igreja e dos seus agentes deu origem a um cristianismo misto de paganismo  multisecular. 

Conscientes desta fragilidade da igreja, surgiram os movimentos individuais ou colectivos inclinados para uma vida mais espiritual e de santidade e de ajuda ao povo, longe das discussões teológicas e dogmáticas. O monaquismo partindo-se do oriente alcançou o ocidente e os seus seguidores desligados dos prazeres mundanos procuraram o seu desenvolvimneto espiritual através da ascese, trabalho, virtude, humildade, simplicidade, a fim de desenvolver o corpo e a alma. S. Bento construiu a sua comunidade como um lugar de paz e de esperança. Esta ordem beneditina espalhou-se pela Europa, Itália, Alemanha e França e os seus mosteiros  tornaram-se centros de espiritualidade, de cultura e de missionação. Fundaram escolas, oficinas de escritas e de outras profissões necessárias ao desenvolvimento do povo local. Desbravaram a terra e construiaram casas. Cada díscipulo tinha como missão, estar sempre ligado a Deus, de modo a ligar a sua mente à sua alma e à aqueles que nos rodeiam (Pensa-se que a doenças do nosso tempo se devem à falta de ligação da nossa mente ao nosso espírito divino, muitas pessoas não estão ligadas a nada, nem a Deus, nem aos outros).

Como todas as coisas esta ordem beneditina teve o seu ciclo, quando no séc. X os monges beneditinos deixaram de cumprir as suas regras, e, veio a ser renovada, através da abadia de Clunny. Estes clunienses também basearam-se na regra beneditina, adaptada aos novos tempos. A sua disciplina baseava-se no silêncio, prece e cântigos, enquanto, trabalho e  tarefas manuais eram exclusivos dos colonos. Pelos mesmos motivos ao longo dos tempos foram surgindo novas ordens, cartuxos, cistercienses, franciscanos, dominicanos, jejuítas, etc.

Apesar do esforço destas ordens monásticas, continuaram-se a alastrar os movimentos gnósticos, maniqueistas, albinenses, cátaros ou puros, lombardos, humilhados, valdenses. Os valdenses eram contra a hierarquia católica, realizavam as funções atribuidas ao clero e tinham apenas 2 sacramentos, a penitência e a eucaristia. Os seus pregadores viviam-se de esmola propagaram-se no sul da França, Delfinado, Provença, Piemonte e Lombardia. Os seus pregadores viviam-se de esmola e propagaram a sua doutrina no sul da França, Delfinado, Provença, Piemonte e Lombardia. Afirmavam que a bíblia era a única autoridade suprema, e, que todos os homens justos podem proclamar o evangelho, perdoar os pecados, comemorar a Ceia de Cristo. Os cátaros acreditavam num Deus do bem, criador do mundo espiritual, e, num deus do mal, criador do mundo material. Consideravam que Cristo, O enviado por Deus do bem, para salvar os homens, era um ser espiritual, sem pecado, e não tinha uma realidade corpórea, e, como tal, não podia contrair a união com a matéria. Sendo ser espiritual, na sua crucificação, não teve sofrimento, morte e resurreição. Havia cataros: Perfeitos, Propagandistas e Povo em geral. Os Perfeitos, vida austera, proibição de determinados alimentos, pratica de jejuns rigorosos e abstinência sexual; os Propagandistas que formavam os seus quadros, eram os bispos. Ao povo em geral era permitido o concubinato, preferível ao casamento, e, o suicídio era considerado bom, um meio de separar o espírito da matéria. Todos recebiam  uma unica vez na vida, geralmente no leito da morte, o "Consolamentum" ou consolação, em que o celebrante colocava as mãos e o Evangelho sobre a cabeça do adepto, era uma especie de batismo que eliminava os pecados cometidos e conferia o Espírito Santo.

O papa Alexandre III proibiu os fiéis de comunicarem com estes hereges  e em 1209 iniciou-se a cruzada contra os albigenses e 7 000 pessoas numa igreja foram massacrados. Os hereges eram presos e seus bens confiscados. 

A acrecentar a esta crise religiosa vieram catastrofes, pestes - Peste Negra 1348-1349, guerras e fome, e, as pessoas com o medo do outro mundo percorriam a Europa em procissões de flagelantes para purificar o corpo.  A religião tornou-se individual, baseada na fé intuitiva, culto  de Paixão de Cristo, e,  a devoção da Nª Srª com o Menino foi substituida pela Nossa Senhora de Sofrimento,  Pietá, visão de Mãe em Sofrimento com o filho morto nos braços e S. José tornou-se o intercessor junto do Salvador, símbolo de eperança e de anunciação.  

O professor de teologia e de filosofia em Oxford, João Wyclif, 1328-1384,  baseando-se em S. Agostinho, defendeu a predestinação dos seres, estando uns prometidos a vida próspera, outros às chamas eternas. Para ele a Bíblia era a unica referencia ao homem e para a sua leitura mandou-a traduzir para inglês. Atacou o papado e defendeu a secularização dos bens da igreja e negou a transubstanciação, a presença efetiva do corpo de Cristo na hóstia sagrada. Escapou a prisão,  protegido pela corte e pelo duque de Lencastre;

Jan Huss, 1369-1415, divulgou as ideias de Wyclif na Boémia e foi excomungado em 1410, preso e condenado. Foi morto na fogueira, 1415.

Esta  fé intuitiva, antitese do  uso da razão tomista - S.Tomás de Aquino - séc.XIII, já vinha a ser defendida por alguns intelectuais. Os franciscanos britânicos, John Duns Scott, morto em 1308, e Guilherme Ockhman, morto em 1349, proclamavam que só a fé, alimentada pela leitura dos textos sagrados, podia salvar o homem do mal. O mestre Eckhart, 1260-1327, defendeu  que na alma existe algo susceptivel de pôr o homem em contacto com Deus. Foi condenado postumamente e os seus ossos enxumados e queimados em 1428.

PAPADO - Em 756 foi criado o Estado Pontifical, sob a protecção do Pepino. Com a queda do poder imperial germânico nos finais do séc. IX surgiram as facções feudais, antagónicas. As investiduras das hierarquias católicas passaram a ser feitas segundo a manobra da facção mais forte: João VIII desapareceu, Estevão VI entronizado em 896 é derrubado no ano seguinte, atirado a um calabouço e estrangulado; Leão V, em 903, ao fim de 2 meses de pontificado, foi preso e executado; papa João X em 914 é preso e em 928 morreu asfixiado com uma almofada; Papa João XII em 955 era mundano, dava banquetes, festas, etc. e em vez de dizer a missa caçava e ambicionava o poder; papa Bento VI é preso e estrangulado, em 974; papa Bonifácio VII obrigado a fugir e é substituido pelo papa Bento VII;  Papa João XIV em 984 é preso; papa João XVI, antipapa; papa Gregório V cortaram-lhe  nariz e língua e arrancaram-lhe os olhos, vindo a morrer miseravelmente em 998. O mesmo sucedia com a nomeação dos bispos e dos abades.

Esta feudalização da igreja era ainda agravada com a simonia e com o nicolaismo. A simonia, compra das funções religiosas, por vezes por leilões, vendendo-se a quem oferecesse mais, tais como, uma paróquia ou uma badia,  pagando-se aos senhores, como se fosse um benefício, que, passava do pai para o filho. O nicolaismo, seja o concubinato ou o casamento dos eclesiásticos, incluindo os monges. Em algumas dioceses os padres não residiam nas suas paróquias. O nível cultural do clero quase que não os distinguia dos laicos ignorantes e habituados à embriaguez. Muitos bispos levavam uma existencia de cortesãos junto dos soberanos poderosos. O clero regular também se acomodou a uma vida materialista, esquecendo-se da ascese e do monaquismo, e vivendo em apartamentos privados, fugindo ao rigor e a disciplina dos dormitórios e das celas.

Assim, por volta do ano 1000, a ignorância e a crendice era tanta, que, para resolução dos problemas sociais os Tribunais usavam ordálias, sejam provas, tipo, duelos, ferro na brasa, água a ferver, etc., para descobrir o inocente e o culpado, acreditando-se que Deus, sendo omnipotente, animado do espírito de justiça, se manifestaria atrvés dum milagre. As pessoas também se recorriam ao satanás e pensavam  que determinados edifício em ruínas,  árvores ou florestas, eram a sede dos poderes diabólicos e faziam-lhe oferendas. As feitiçeiras desempenhavam as funções de sacerdotisas de magia negra. Eram punidas por vezes batendo-se-lhes com vergasta e expulsando-as de paróquia. Nas punições também se usavam a morte pelo fogo. Tudo isso criou  a angustia do além e das chamas eternas, vulgarmente designado "Terror do ano 1000".

Neste caos social, surgem vozes da consciência e papas para corrigir os males em que a sociedade vivia. Em  1022 foi determinado que os clérigos não deviam ter esposa, decisão que o sínodo de Paris de 1074 considerou contrário à razão, nem concubinato, sob pena de exoneração, e,  os fiéis foram proibidos de assistirem  missas celebradas por padres que não observassem a castidade e o celibato.  Os concílos defenderam que aos  reis e aos nobres competia manter paz e justiça, defender  fracos e oprimidos. Para refrear violência, assassínios e pilhagens decretaram a  "Trégua de Deus" em 1027, proibindo as hostilidades aos Domingos, dia de Deus e em memória da ressurreição de Cristo, e em 1041 recomendaram mais 3 dias de paz, 5ª Feira por causa de Ascensão de Cristo, 6ª Feira por causa da sua paixão e o Sábado pelo respeito perla sua sepultura.

O alto clero, animado com este prestígio da igreja, escolheu o papa Nicolau II, 1059-1061, que pela primeira vez fixou o processo de eleição pontifical - Concílio de Latrão,  restringindo a eleição dos papas  a uma assembleia dos cardeais e de bispos, tendo o imperador apenas o direito de sua confirmação - Querela das Investiduras. Papa Gregório VII em 1075 - Reforma Gregoriana -defendeu a supremacia da autoridade espiritual,  sobre a autoridade temporal, subordinando o poder temporal  ao poder papal, podendo o papa destronar os imperadores e desligar os subditos de juramento de fidelidade feito aos maus monarcas. No entanto, muitos sectores eclesiásticos e o poder temporal em França, Inglaterra e sobretudo em Alemanha não apoiaram estas reformas por ser contra os seus interesses. Pois, na Alemanha os bispos e os abades, não eram clérigos, mas  senhores temporais, e por isso, apoiavam  o imperador Henrique IV. Quando o papa Gregório VII quis eleger o titular da Sé de Milão, Henrique IV com o apoio dos senhores  alemães e italianos, exercendo cargos de bispos e abades,  solicitou em 1076 ao Papa seu abandono do trono de S. Pedro. Em resposta o papa o excomungo e o depôs e os príncipes alemães, sendo contra o Henrique IV, nomearam novo imperador, o Rei Rodolfo da Suábia. Henrique IV arrependido pediu perdão ao Papa  em 1077 e ao fim de 3 anos  derrotou o Rodolfo e ocupou Roma e nomeou um antipapa, Clemente VII.  

No pontificado do Papa Urbano II a igreja ganhou autoridade e o imperador Henrique V em 1122 aceitou as normas canónicas para a eleição eclesiástica, em que um delegado imperial estaria presente e poderia em caso de dúvida, decidir-se pelo candidato que julgasse mais digno. O papa Inócencio III, 1198-1216, enunciou o princípio: o papa é o sucessor do Pedro e para conduzir a humanidade à vida eterna, beneficia da plenitude do poder. Cada um deve-lhe, por conseguinte, obediência e submissão, e os soberanos como são responsáveis pelo seu povo perante Deus, devem mais do que qualquer um, conformar-se aos preceitos do chefe da igreja, vigário do Cristo. Assim, o papa podia  intervir nos assuntos temporais dos Estados, sobretudo se o rei cair em pecado ou se tiver necessidade urgente, por exemplo,  de manter a paz, como exige a lei divina, bem como ingerir na vida privada e pública dos príncipes para assegurar a conduta destes conforme o envangelho.

Verificando longas vacaturas da sede apostólica, o Rei de França, Filipe IV, 1285-1314, o Belo, quis que o clero ficasse subordinado ao  Estado-Rei e exigiu ao clero francês a contribuição para fazer a guerra contra o Eduardo I da Inglaterra em 1296. O Papa Bonifácio VIII proibiu que os príncipes contribuissem. Em  resposta Filipe proibiu a saida de ouro e prata do reino para os cofres do Papado.

Em 1301 um protegido do papa é detido e acusado de traição. O Papa, invocando em 1302 a supremacia do poder espiritual sobre o porder temporal, reuniu em  Roma um concílio de dignatários da igreja francesa para reformar o rei e o reino da França. Reagindo,  um conselheiro do rei divulgou algumas acusações contra Bonifácio: heresia, perjúrio e sodomia, com a finalidade de prender Bonifácio e submete-lo ao julgamento e prendeu-o, mas a populaçãpo apoiou o papa e os captores tiveram que se retirar. O Papa  morreu logo a seguir. E o Filipe, O Belo, impô-se como sucessor do Bonifácio VIII, Bento XI, 1303-1304, mas, em 1305 o substituiram por um novo papa, Clemente V.

Em 1307 Filipe IV ordenou a detenção de todos os templarios e a penhora dos seus bens. Acusados de corrupção foram julgados e obrigados a reconhecer os crimes de que eram acusados sob tortura e 54 cavaleiros templários,  considerados relapsos, foram condenados e queimados na fogueira. Também foram presos, julgados e queimados, seus altos dignatários. A Ordem foi suprimida e seus bens foram transferidos para a Ordem dos Hospitalários.

PAPADO EM AVINHÃO/CATIVEIRO DA BABILÓNIA. 1309 - 1377 - O  Papa abandonou Roma, devido aos conflitos violentos em Roma e em Itália e passou a viver em  Avinhão, cidade vassala de Santa Sé, de 1309-1377. Aqui permaneceram 6 papas seus sucessores. Estes papas apoiaram o rei de França  contra os ingleses, assim, os soberanos ingleses eram hostis ao papa do Avinhão.

GRANDE CISMA. 1378 - 1417 - Só em 1377 o papa Gregório XI  regressou à Roma, onde morreu em 1378. O Colégio Sagrado em 1378 elegeu Urbano VI, que atacou a riqueza, avidez e costumes dos cardeais e estes, por isso, declararam nula a sua eleição e abandonaram Roma e com o apoio dos seus colegas italianos elegeram um novo Papa, Clemente VII, em Nápolis, que em 1379 instalou-se em Avinhão dando lugar ao Grande Cisma, 1378-1417, aproximadamente 35 anos, período em que, simultaneamnete, 2 ou 3 papas dividiram os governantes e o conjunto dos crentes. As tropas de Urbano e de Clemente durante 15 anos, de 1378 a 1393 andaram em confrontos religiosos, para eliminar o rival, sobretudo em Italia. Urbnao VI mandou executar em 1385 cinco cardeais. Urbano VI era apoiado pelos países influentes do norte: Inglaterra, os reinos nordicos e a Flandres, enquanto a Alemanha se encontrava dividida entre Urbano e Clemente, mas tinha a benevolencia do imperador e apoio da Polónia, Hungria e  da Italia. Clemnete VII tinha apoio da França, rival de Inglaterra, de Castela em 1381, depois Aragão e Navarra em 1390. A Europa cristã encontrava-se dividida em 2 blocos rivais, disputando entre si os episcopados, abadias e até paroquias.

Nisto a França em 1349 deixou de pagar subsídios ao papa e de reconhecer a autoridade papal, contra a vontade do clero francês, e, pediu a demissão dos dois papas. Este cisma perpetuou até 1409, quando 9 cardeais de Gregório XII  entraram em negociações com os colegas de Avinhão e acordaram fazer um concilio geral - Concílio de Pisa 1409  e deram inicio aos processos canonicos dos 2 papas, Bento XIII e Gregorio XII e forma estes depostos, declarados cismaticos e hereges por não terem respeitado a unidade da igreja de acordo com o Credo e elegeram Alexandre V, 1409, mas ambos os papas não acataram as decisões, passando haver 3 papas, agravando a desordem e o cisma.

O imperador alemão Segismundo reuniu o concílio de Constança, 1414-1418 e os 3 papas foram demitidos e escolheram o papa romano, Martinho V. Este concilio afirmou que a sua assembleia vinha de Cristo e que todos, incluindo o papa lhe devia obediencia em matéria de fé, de cisma e de reforma da igreja e fizeram a deposição de dois papas, enquanto o papa Gregório XII abdicou-se. Também decretaram que o Concílio seguinte se reuneria dali a 5 anos, um outro 7 anos depois e daqui para frente de 10 em 10 anos. Este cisma durou 39 anos.

Apesar disto tudo, sec. XV-XVI, os papas comportaram-se como se fossem um rei e não vigários de Cristo ou herdeiros de Pedro, a Santa Sé como se fosse um Estado: Papa Sisto VI, 1471-1484, recorreu à guerra firmar a sua autoridade; Inocêncio VII, 1484-1492, com 2 filhos; Alexandre VI, 1492-1503, 4 filhos, etc.   

REFORMA PROTESTANTE - Perante tantos problemas na Igreja Católica surgiram os reformadores, como Lutero e Calvino. Lutero, católico,  em 1517 publicou as 95 teses, discordando-se das indulgências promulgadas em 1515 por Leão X para a construção da Basílica de São Pedro de Roma. E considerou Cristo como único chefe da igreja. Papa Leão X condenou as teses atraves duma bula que Lutero queimou perante os professores e os estudantes de Wartburg, provocando a sua excomunhão em 1521, pelo que para fugir à prisão refugiuou-se no Castelo de Wartburg, onde morreu. Na Alemanha os principes alemães podiam escolher livremente a sua doutrina e impo-la aos seus subditos com o princípio "tal príncipe tal religião" e 2/3 da Alemanha tornaram-se luteranas em 1555, atingindo tambem a Suíca, Finlandia, Noruega, Antuerpia nos Paíse Baixos e ainda o oeste da França e o sul da Itália e na Europa do leste;

Calvino, 1509-1564, a sua doutrina aproximava-se de luteranismo e teve defensores na Suiça, França, nas zonas do Reno, Países Baixos, Suécia, Inglaterra, Escócia, Europa Central, Boémia ou a Polónia; 

Anglicanismo: o rei Henrique VIII quis anulação do seu casamento com Catarina de Aragão para disposar Ana Bolene, o que o papa  recusou, mas o arcebispo de Cantuária, Thomás Cranmer, proferiu a nulidade e a validade da nova união com a Ana, e o papa exomungou Henrique VIII que em 1534 aprovou no Parlamento a "Lei de Supremacia" tornando-se soberano da igreja inglêsa, causando a rotura oficial com  Roma.

REFORMA CATÓLICA/CONTRA-REFORMA - Enquanto a igreja católica se via ameaçada pelo protestantismo, Inácio de Loiola de origem basca, espanhol, com mais 6 companheiros, fizeram voto de pobreza e castidade e em 1537 foram ordenados padres e os "7" formaram a "Companhia de Jesus" com a vontade de O servir com o espírito de combatente. A Ordem foi aprovada pelo papa Paulo III. Estes jesuistas, ao contrário dos protestantes, respeitaram a doutrina da igreja católica e reconheceram a politica religiosa tradicional e a importância dos sacramentos liturgicos, disciplina, etc. O jesuíta devia professar fundamentalmente 3 votos:castidade, pobreza e obediencia,ao papa. Para ser jesuita era necessário ter 15 anos de formação e solidos conhecimentos de filosofia e teologia e apenas eram admitidos jovens de elevado poder moral. Dedicavam-se a pregação, ensino, e fim de promover pensamento e vida cristã. Rapidamente os seus membros difundiram-se pela Italia, Espanha, Portugal, Belgica, França, e ainda pela Alemanha protestante e em 1556 a Companhia já tinha mais de 1000 membros e uma centene de casas.

Nisto o Papado convocou, com o apoio de Carlos V, imperador alemão,  o Concílio de Trento, 1545-1563. Este concílo durou 18 anos, dividido em 3 períodos: 1545-1548; 1551-1552; 1562-1563. Funcionou como uma reforma católica, também chamada Contra-Reforma. Esta reforma clarifcou os dogmas e reafirmou como base da fé,  simultâneamente as escrituras e as tradições formadas "sob sugestão do Espírito Santo", como o culto dos santos, relíquias e imagens, odioso aos protestantes. A Vulgata foi proclamada como a unica edição autentica das Escrituras. A interpretação individual da bíblia, defendida pelos protestantes, foi considerada contraproducente, devido a diversidade das interpretações que daí resultariam. Reafirmaram que o pecado original de Adão e Eva foi transmitido à sua descendência, mas sem privar os homens do seu livre-árbitrio e que para auxliar o homem  Deus enviou o seu filho para redimir o homem dos pecados, através do seu sacrifício. Afirmaram que o batismo à criança é um meio de a mesma se chegar à Deus. Defenderam que Deus sendo bondade permite à priori a salvação de todos os homens, descordando assim com as concepções luteranas de salvação, só pela fé, e com a tese calvinista  de predestinação, pois com a graça divina cada um pode, consoante o seu livre-arbítrio, aceitar ou rejeitar Deus e consoante a nossa escolha podemos ter acesso ao paraíso ou ao purgatório;  Confirmaram que são 7 os sacramentos instituidos pelo Jesus: batismo, confirmação, eucaristia, penitência ou reconciliação, santa unção ou unção dos enfermos, ordem e matrimónio, sendo 3 entre eles, eternos e ministrados senão uma única vez: batismo, confirmação e ordem. Reafirmaram que apos a consagração na Eucaristia existe a presença efectiva de Cristo: todo o pão é corpo, todo o vinho é sangue de Cristo e instituiram o dever de comungar todos os anos, pelo menos na Páscoa, confessar pelo menos uma vez por ano e receber a extrema-unção como ultimo sacramento para a salvação do moribundo, o conjugue  ter apenas unico esposo, mas, sendo preferivel que o homem e a mulher se mantivessem solteiros e castos.  O sacramento "Ordem", através da sua graça,  constitui ministros de Jesus Cristo com poderes para celebrar a missa, administrar sacramentos e pregar a palavra de Deus. Foi proibido  aos bispos a acumulação dos episcopados e a obrigatoriedade de residência na sua diocese, sob pena de privar de fruto do seu rendimento e  para ascender ao episcopado os padres teriam que ter 30 anos, provas de seriedade, moralidade e conhecimento suficiente. E, como delegados da sede apostolica, foram encarregados de vigiar, corrigir monges e mosteiros e o clero secular. Receberam ainda a  obrigação de assistir todos os anos as igrejas das suas circunscrições religiosas, devendo cada diocese ser percorrida pelo menos de 2 em 2 anos. Proibiu-se aos padres o casamento, concubinato e a obrigatoriedade de envergar o hábito clerical. Os candidatos ao seminário dos padres tinham que ser  filhos legitimos com pelo menos 12 anos, sabendo ler e escrever e desejo de pertencerem a ordem. Sendo, após admissão, tonsurados e obrigados a usar o habito eclesiastico, e, ainda, sendo seu dever ajudarem a missa, confessarem pelo menos uma vez por ano, e, participarem nas cerimonias religiosas nas igrejas e receberem  conhecimentos para celebrar oficios e ministrar sacramentos. Decidiram também as edições do "Catecismo", cuja primeira edição saiu em 1566,  de um Breviário, cuja edição saiu em 1568 e de um Missal, cuja edição saiu em 1570. Com a reforma, o catolicismo generalizou-se na Peninsula Ibérica, Espanha e Portugal e muitos eclesiásticos dedicaram-se à evangelização das terras descobertas, bem como pelo Europa protestante.

GUERRAS RELIGIOSAS - Tendo o O concílio de Trento condenado o protestantismo,  católicos e protestantes andaram em confronto durante mais de 40 anos na Europa Ocidental. Para apaziguar a sociedade francesa em guerra desde 1562 o rei Henrique IV  abjurou o protestantismo em 1593 e com o Édito de Nantes 1598 proclamou o fim das hostilidades, liberdade de consciência e lliberdade de culto, mas condicionado. Depois, Luís XIV lutou pela integridade de dogmas catolicos, mas, na sua sagração tornou "Consagrado do Senhor/Tenente de Deus na terra", divinizando a sua pessoa, e,  colidindo esta posição com a do Papa,  criando assim um sentimento galicano. Ao mesmo tempo, tomou medidas  contra os protestantes,  demolição dos seus templos, proibição nas funções publicas,e, em certas funções privadas, como, medicos e paramedicos, supressão das escolas protestantes e foram combatidos os desvios do catolicismo,  jansenistas e quietismo. Assim, em 1700 o catolicismo floresceu em França e o clero renunciou ao concubinato, deixou a embriaguez, passou a residir na sua paróquia e tornou-se respeitavel e disponivel ao apostolado.

A Guerra dos Trinta Anos, 1618 - 1648, que devastou quase toda a Europa Ocidental, com devastação de quase 1/3 da sua população e deixou o Sacro Império Romano devastado. Mas, o maior impacto foi na Alemanha, causando a morte de mais de 10 milhões de alemães. Esta guerra terminou com a Paz de Vestefália em 1648. Nos termos de qual cerca de 350 Estados alemães tiveram a supremacia territorial, condicionada apenas a não conclusão de tratados contra o império e o imperador, e a liberdade de opção religiosa, independentemente de serem, católicos, luteranos e calvinistas, com base no princípio de "tal príncipe, tal religião". Em conclusão, grande número de cristão separaram-se da igreja católica e criraram as diversas igrejas nacioanis.

Em Inglaterra, crise inglesa, 1642-1649, enquanto  corria guerra internacional no continente, surge crise político-religiosa, porque o rei Carlos I, 1625-1649, sendo absolutidsta quis reforçar o seu poder e impor o anglicanismo, dando lugar as guerras civis de 1642-1649, mas Oliveira Cromwell simpatizante do calvinismo derrotou o monarca e o executou, e,  em 1673 o parlamento votou a "lei de prova" impondo aos funcionários o repudio de transubstanciação e a prestação dum juramento a favor da supremacia regia, contra o  poder papal. De 1678-1680 padres e religiosos foram executados ou presos. No reinado de Jaime II, 1685-1688, soberano católico dum estado protestante, indispos os chefes anglicanos, que pediram a intervenção armada do genero do rei, o protestante Guilherme de Orange, que assim sucedeu ao trono, com o nome de Guilherme III, na companhia da sua esposa, Maria II, filha do rei deposto e assim a partir de 1689, quase 150 anos, o catolicismo ficou de rastos, os padres não poderam rezar a missa, sob pena de prisão perpetua, e, os irlandeses foram proibidos de assento no parlamento irlandês, privados  de padres,  escolas católicas,  e, obrigados a assistir aos ofícios protestantes, sob pena de morte, caso não acatassem a ordem.

INQUISIÇÃO - Em 1184 o papa Lúcio III ordenou aos bispos que os hereges fossem inquiridos, mesmo, à partir dos simples boatos, e, caso confirmasse a verdade, os bens dos condenados eram confiscados e os culpados entregues ao poder civil para fazer cumprir a pena. Em 1231 o papa Gregório IX determinou que os punidos podiam incorrer na pena de fogo, e, os seus processos mantinham-se secretos, sem direito à defesa e à ajuda de advogado. A partir de 1233 instituiu-se em França o Tribunal Especial de Inquisição, orgão criado pelo Papa Gregório IX em 1231 pelo nome de Tribunal de Santo Ofício de Inquisição em Roma. Em França multiplicaram-se as condenações e as fogueiras. Em 1244 Inocêncio IV instituiu a tortura. Os principais agentes da inquisição foram requisitados  entre os dominicanos. O papa Inocêncio VIII encarregou oficialmente a inquisição para reprimir a feitiçaria. Esta inquisição estendeu-se à França, Países Baixos,  Alemanha, sem se vingar, e,  à Espanha e Portugal, em 1478.

A Inquisição em Portugal foi instaurada a pedido do próprio rei D.João III em 1536, ao papa Paulo III, para uma maior centralização do seu poder, em contradição à sua própria política de financiar estudos baseados em novas ideias e pesquisas, em oposição ao saber escolástico e aristotélico, dos jovens portugueses em outros países. Este órgão papal era independente dos reis e  vice-reis e estes, mas, eram obrigados a pagar as suas despesas, prestar ajuda que lhes fosse solicitada e executar as suas sentenças, através das autoridades administrativas do Estado.

Todas as pessoas eram obrigadas a denunciar ao Santo Ofício as blasfémias a divindade, desacatos a imagens dos santos, críticas a inquisição e práticas pagãs pelos convertidos a fé católica, mas muitas das vezes as denúncias, podiam ser falsas, por inveja ou outros interesses. Os presos da inquisição eram algemados com ferros nos pés e apresentados, depois de lhes tirarem as algemas, à Mesa do Santo Ofício, a qual exortava-os para confissão do crime.O interrogatório era marcado pela tortura, instrumento de terror muito comum na época. O Manual dos Inquisidores, espécie de guia pratico do oficio inquisitorial, escrito em 1376 pelo dominicano espanhol Nicolau Eymerich, depois revisto e atualizado em 1578 por Francisco de La Peña, reza que: “A finalidade da tortura é obrigar o suspeito a confessar a culpa que cala. Pode se qualificar de sanguinários todos esses juizes de hoje, que recorrem tão facilmente à tortura, sem tentar, através de outros meios, completar a investigação. Esses juizes sanguinários impõem torturas a tal ponto que matam os réus, ou os deixam com membros fraturados, doentes para sempre. O inquisidor deve ter em mente que o acusado deve ser torturado de tal forma que saia saudável para ser libertado ou executado”.

Feito o interrogatório os réus eram encaminhados à prisão, onde tinham as refeições regularmente, mas não tinham direito aos sacramentos e a missa, no entanto tinham direito a defesa através dum promotor, procurador e advogado, mas na prática este era elemento da própria inquisição. Havia presos de todas as condições sociais, incluindo duques e príncipes. Eram obrigados ao silêncio e caso não cumprissem as normas eram severamente castigados.

Os denunciados classificavam-se em 3 grupos:

- Réu Arrependido: não era sujeitos ao auto de fé, como os restantes;

- Réu Convicto: precisava pelo menos de 7 testemunhas e era aplicada a pena de excomunhão e confiscação dos seus bens;

- Réu Relapso: era reincidente, sujeito a pena de morte na fogueira, assim como, os acusados de magia.

Para a realização dos autos de fé, os réus eram preparados de madrugada, sendo obrigados a vestir hábitos com a simbologia de acordo com o seu crime e classificação, assim os arrependidos levavam na sua sabatina chamas viradas para baixo, seja fogo revolto; os réus relapsos, condenados a fogueira levavam na sua sabatina o seu retrato, nome, crime, diabo e chamas; os acusados de magia levavam um barrete na cabeça, corocha, mitras de papelão com pinturas de demónio e chamas e com um letreiro “feiticeiro”.

A medida que saía o preso, o secretário indicava-lhe o padrinho, seu responsável, para acompanha-lo no auto da fé  e ambos juntavam-se à procissão, cuja cabeça era formada pelos dominicanos com um estandarte de Santo Ofício e cada um com uma tocha acesa, depois seguiam os menos culpados. Estes  autos de fé eram públicos em Goa e realizavam-se na Igreja de S. Francisco Xavier.

Da procissão também faziam parte estátuas da altura de um homem, representando os réus já falecidos, presas numa vara acompanhadas da caixa com as respectivas ossadas, depois de todos os réus chegados e sentados entrava o inquisidor e seus acompanhantes e subia ao púlpito o provincial dos agostinhos e pregava o sermão, findo o sermão era lido o processo de cada um dos culpados.

No fim o inquisidor caminhava para o meio da igreja seguido de uns 20 clérigos, cada um com uma varinha na mão, recitando orações e preces e os absolvidos ou arrependidos levavam nos seus hábitos com uma vara e o seu padrinho o abraçava, mas, destes, os penitenciados podiam ser enviados a galés ou ainda obrigados a ouvir determinados número de missas, confessar, rezar ave-marias, pai nossos, etc.; os convictos sofriam a excomunhão e confiscação dos seus bens; aos relapsos, condenados à fogueira, a quem o inquisidor dava uma pancada no peito com a sua mão, significando que eram por ele abandonados e entregues a justiça secular. Os julgados e condenados pela Inquisição eram entregues às autoridades administrativas e eram depois conduzidos à margem do Rio Mandovi, onde se encontrava o vice-rei e a sua corte e as fogueiras preparadas, o carrasco atava ao poste o preso sobre a pira e se morria como cristão era primeiro garroteado e depois queimado e se persistisse no judaísmo ou na heresia era queimado vivo. Todos eram acompanhados pela multidão das pessoas que presenciavam os condenados.

A Inquisição agiu durante 285 anos em Portugal, sendo eliminada apenas em 1821. Até 1541, data em que foram criados os tribunais de Coimbra, Porto, Lamego e Évora, existia apenas a Inquisição portuguesa que funcionava junto à Corte. Sua primeira sede foi em Évora, onde se achava a corte estabelecida em 22 de Outubro de 1536, sendo o primeiro inquisidor-mor, D. Diogo da Silva, cujo conselho formado de 4 membros, foi a pré-figuração do Conselho Geral do Santo Ofício de 1569. De 1543-1545 a Inquisição de Évora efectuou diversas visitações à sua área jurisdicional. Mas em 1544 o Papa mandou suspender a execução de sentenças da Inquisição portuguesa e o autos-de-fé sofreram uma interrupção.  As suas competências eram visitar os tribunais dos distritos inquisitoriais para verificar a actuação dos inquisidores, promotores e funcionários subalternos, e, verificar o cumprimento das ordens e a situação dos cárceres. Competia-lhe a apreciação e despacho às diligências dos habilitandos a ministros e "familiares do Santo Ofício", julgar a apelação das sentenças proferidas pelos tribunais de distrito, a concessão de perdão e a comutação de penas, a censura literária para impedir que entrassem no país livros heréticos; a publicação de índices expurgatórios; as licenças para impressão.

Tal como nos demais reinos ibéricos, tornou-se um tribunal ao serviço da Coroa. No ano seguinte, o monarca voltou para Lisboa e com ele o novo Tribunal. O primeiro livro de denúncias, iniciado em Évora, foi continuado em Lisboa, a partir de Janeiro de 1537. Em 1539 o cardeal D. Henrique, irmão de D. João III, tornou-se inquisidor geral do reino e redidgiu as primeiras instruções para o seu funcionamento, datadas de Évora. O primeiro regimento surge em 1552. Em 1613, 1640 e 1774, seriam ordenados novos regimentos por D. Pedro de Castilho, D. Francisco de Castro e pelo Cardeal da Cunha, respectivamente. O regimento de 1613 determinava o imediato registo em livro das nomeações, denúncias, confissões, reconciliações, receita e despesa, visitas e provisões enviadas para fora. 

Constam no período entre 1540 e 1794, relativamente aos tribunais de Lisboa, Porto, Coimbra e Évora, a  morte por fogueira de 1,175 pessoas, e na queima de 633 efígies, e, em 29,590 outras penas, e, em relação ao Tribunal de Goa de 1660-1773 constam 71 autos de fé com 4046 sentenças, nas quais 57 mortes na fogueira, com uma média anual de 23 sentenças e com uma execução de 3 em 3 anos.

Em Goa as suas vítimas eram os naturais e os europeus. Mas, quando se fala da inquisição em Goa e das suas consequências nefastas, como a fuga de muitos naturais de Goa para a Índia Inglesa, causando graves prejuízos a economia local, não podemos esquecer que na Índia prevaleciam instrumentos de tortura e eliminação de pessoas, como sati, morte das viúvas na pira do marido falecido, e enganchados, em que a vítima era sacrificada anualmente ao deus duma povoação, para dar a mesma, paz e prosperidade económica, com a aprovação do povo que  alegremente com os seus dirigentes sacrificava estas vítimas ao deus, supondo que isto iria trazer a cada um deles uma vida próspera e feliz. As vítimas da inquisição constam dos respectivos relatórios. Mas, as vítimas de sati e dos enganchados, se calhar não são conhecidos. No século XVI Afonso de Albuquerque nas Velhas Conquistas proibiu "Sati", o sacrifício das viúvas, na pira fúnebre do marido. No século XIX nas Novas Conquistas foi também proibida a prática de enganchados, sacrificíco das vítimas a um deus da povoação para dar prosperidade a mesma.

“Em 1558 começaram as primeiras repressões sobre os cristãos de São Tomé, por parte do clero católico, com a apropriação abusiva dos ossos do santo que, sem autorização dos seus legítimos guardiõers, foram transladados de Meliapor, local tradicional de peregrinação onde se conservavam há mais de 15 séculos, para Goa, acabando por serem depositados em 1560 numa igreja mandada edificar por ordem da rainha D. Catarina, mulher de D. João III. O Tribunal de Santo Ofício começou a funcionar em 1561 em Goa, e depois em Damão, Diu, África Oriental, Ormuz, Malaca e Macau. Os principais visados não eram os muçulmanos ou hindus, mas sobretudo os cristãos acusados de heresia, fossem eles judaizantes ou cristãos de São Tome, designados como arménios nestorianos, havendo notícias de terem sido vivos em autos-de-fé, em 1612.” In Grandes enigmas da história de Portugal, vol.II – Avis e os descobrimentos; M.S.Baines; P.A.Loução; Lisboa, Ésquilo, 2009.

A inquisição não estava  instituído no Brasil, por isso, este território estava subordinada ao Tribunal de Lisboa, que enviava um visitador para investigar presencialmente como se encontravam a fé e o cumprimento dos dogmas católicos pela população. Constam três visitas ao Brasil, nomeadamente na Capitania da Bahia, na Capitania de Pernambuco e no Estado do Maranhão e Grão-Pará. Esta última, classificada como extemporânea pelos historiadores, ocorreu já ao final do século XVIII, momento em que a instituição já se encontrava enfraquecida.

Em 1558 foi introduzida na Espanha (pela própria Coroa Espanhola, à revelia da Igreja) a pena de morte para quem importasse livros estrangeiros sem permissão ou para quem imprimisse sem a autorização oficial. Por isso, os estudantes espanhóis foram-se afastando da Universidade de Monpellier e o seu número sofreu brusca diminuição. Entre 1510 e 1559 foram 248. Já entre 1560 e 1599 foram apenas 12.

Em 1545 Damião de Góis tinha sido denunciado como luterano. Em 1548 Fernão de Pina, guarda-mor da Torre do Tombo e cronista geral do reino, sofreu idêntica acusação. Pe. António Vieira, jesuíta, grande orador-pregador, famoso pelos seus sermões e escritos, defensor dos índios, odiado pelos colonos, foi perseguido e preso pela inquisição no séc. XVII no Brasil. Foi missionário, político, escritor, pregador, diplomata, e até profeta messiânico. São Francisco Xavier, jesuíta, capaz de resar sózinho na quietude da noite, capaz de derramar lágrimas durante a Missa e levitar,  defendeu a introdução da inquisição na Índia para combater a licensiosidade.

Garcia de Orta, 1500-1568, médico, naturalista, judeu, autor do livro "Colóquios simples e drogas  e coisas medicinais da Índia, foi condenado postumamente  à fogueira por judaismo, e, sua irmã Catarina na Índia, perseguida, acusada de judaismo.  No século XIX, os tribunais da Inquisição foram suprimidos pelos estados europeus, mas foram mantidos pelo Estado Pontifício.

Alheiras: os agentes de inquisição entravam nas casas dos cristãos novos para verificar se os moradores se abstinham de comer a carne do porco, uma das provas procuradas era ausência de enchidos de porco, mas estas alheiras não tinham carne de porco, mas de vitela, peru, pato e galinha e massa de pão, eram enchidos sem carne de porco.

O Index ou Index Librorum Prohibitorum era a lista de livros proibidos cuja circulação tinha de ser controlada pela Inquisição. Os livros autorizados eram impressos com um "imprimatur" ("que seja publicado") oficial, evitando assim a introdução de livros proibidos pela inquisição.  

A Inquisição em Portugal foi extinta gradualmente à partir do século XVIII, sendo eliminada em 1821, após 285 anos da sua actividade em todos os territórios portugueses. 

Em 1908, sob o Papa Pio X, a instituição foi renomeada e passou a ser "Sacra Congregação do Santo Ofício". Em 1965, por ocasião do Concílio Vaticano II, durante o pontificado de Paulo VI e em clima de grandes transformações na Igreja, após o papado de João XXIII, passou a designar-se "Congregação para a doutrina da Fé"(CDF) (Congregatio pro Doctrina Fidei), sendo a mais antiga das atuais nove congregações da Cúria Romana.  A CDF engloba a Comissão Teológica Internacional e a Pontifícia Comissão Bíblica. Tem como tarefa, salvaguardar e difundir fé, moral e doutrina católica no mundo e defender aqueles pontos de tradição católica que possam estar em perigo, com conseqüência de doutrinas novas não aceitáveis pela Igreja Católica, e, como tal, compete-lhe averiguar casos de apostasia entre católicos, sobretudo do próprio clero, bem como abusos sexuais.   

ILUMINISMO E RELIGIÃO - O movimento iluminista no séc. XVIII proclamou-se deísta e seus mentores acreditavam num Deus criador do universo. Viam  na moral cristã pecado e dor, bem como, não conseguiam entender, através da razão, os dogmas e negavam o pecado original. Este movimento de França difundiu-se pelos outros países.  Alemanha não pôs em causa o cristianismo, mas reagiram contra o que considervam abusivo e permitiram o controlo dos clero alemão sob  responsabilidade dos soberanos, bem como, a supressão dos jesuitas e a contestação da autoridade papal. Os  jesuitas ocupavam supremacia na área de educação em todos Estados soberanos, daí que Portugal foi o primeiro país a exupulsa-los e deportou 1000 jesuitas para os Estados pontificais. O mesmo sucedeu em Espanha, e, em França uns 20 000 religiosos foram expulsos e centenas de escolas encerradas.

Com a entrada das tropas francesas em Roma em 1798 o general francês enclausurou em Valença o papa  Pio VI, pelo que a opinião pública acreditou no fim da igreja, mas o golpe de Estado de Bonaparte, 1799, alterou as coisas e os padres puderam livremente prestar o seu culto, mas tinham que prestar fidelidade a constituição e foi eleito o papa, Pio VII em 1800.

As guerras religiosas e civilizacionais ainda continuam. Um exemplo, a comunidade cristã duma aldeia de Orissa, Índia, foi durante vários meses em 2008 perseguida pelos extremistas hindus de indutva, que proclama uma só religião e cultura hindu, e, considera as outras religiões na Índia estranhas à tradição indiana. As casas destes cristãos foram destruidas e foram obrigados a reffugiarem-se nas florestas. Passados 2 anos os culpados continuam em liberdade e o poder judicial indiano não foi capaz de leva-los ao julgamento. In. renascença música e informação diaria.blogspot.com, 18.04.2010.

 

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